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Hélio Schwartsman

Falácia do planejamento

SÃO PAULO - Um dos dogmas dos liberais é o de que o Estado é um péssimo gerente. É provável. Mas será que a iniciativa privada se sai muito melhor? Quando vieses cognitivos entram na jogada, a mão invisível pode funcionar bastante mal.

Os jornais dos últimos dias foram pródigos em notícias sobre atrasos e estouro nos orçamentos de obras da Copa, muitas delas tocadas por empresas concessionárias que só perdem com o mau planejamento. Por que, então, erros desse tipo são cometidos? Como as forças de mercado ainda não corrigiram essa falha? A resposta atende pelo nome de falácia do planejamento, que é a tendência de pessoas e instituições de subestimar o tempo e os recursos necessários para a realização de um projeto.

Embora o fenômeno tenda a exacerbar-se em países subdesenvolvidos como o Brasil, não se trata de uma exclusividade nacional. Há vários estudos mostrando não apenas que as falhas são recorrentes como também mensurando-as. Um bom exemplo é o dos trens: 90% dos projetos ferroviários realizados em todo o mundo entre 1969 e 1998 superestimaram em 106% o número de passageiros que usaria o transporte, com impacto negativo para o equilíbrio financeiro do negócio. Pior, mesmo cientes dessa tendência, os especialistas não foram capazes de corrigi-la.

A falácia do planejamento foi identificada e batizada pela dupla de psicólogos Daniel Kahneman e Amos Tversky e é uma das modalidades do viés de otimismo que afeta nossa espécie quando apreciamos nossas próprias capacidades.

O melhor remédio para esses casos é recorrer à visão de fora, isto é, esquecer todas as informações específicas que você tenha sobre o projeto que quer avaliar e utilizar como base a média de tempo e custos aferida para empreitadas parecidas. É só então que você deve proceder a módicos ajustes em função dos dados específicos. É bem contraintuitivo, mas funciona.

helio@uol.com.br


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