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Hélio Schwartsman

Desopilando o fígado

SÃO PAULO - A experiência se faz acompanhar de certo cinismo. Não afirmo que isso seja bom, apenas constato a correlação. E, após 25 anos nas lides do jornalismo, tendo assistido a dezenas de escândalos grossos de corrupção e visto um número ainda maior de projetos de lei francamente estúpidos, confesso que essas coisas já não me deixam tão indignado como no passado. Para o bem e para o mal, o ser humano se acostuma com quase tudo.

Há, porém, duas exceções. O sangue ainda me sobe à cabeça sempre que um parlamentar quer controlar o que eu ou meus filhos podemos ler, ouvir e assistir. A cólera também surge cada vez que sai derrotada uma proposta de emenda constitucional que abole a obrigatoriedade do voto.

Comecemos pelo último. Sei que muitos cientistas políticos defendem com vigor o instituto, e com argumentos racionais. Dizem que ele reforça a legitimidade dos eleitos e a participação de todos os setores da sociedade, já que, quando o comparecimento é facultativo, são os mais pobres que mais deixam de votar.

Pode ser, mas não me convence. Há uma questão lógica anterior. É absurda a ideia de que o eleitor tem capacidade de escolher o dirigente máximo da nação, mas não a de definir sozinho se deve comparecer em sua seção eleitoral. A liberdade de decidir em quem votar tem como pré-requisito a liberdade para decidir se vai ou não votar.

Ainda mais revoltantes são os projetos de lei que querem proibir ou restringir determinados produtos culturais, porque algum congressista vê neles um estímulo à violência, à imoralidade ou a alguma outra fantasia inconfessável de suas mentes.

Essa é uma área em que jamais haverá consenso, então, a única coisa decente a fazer é deixar que cada um leia e veja o que bem entender, direito extensivo à prole. É ridículo imaginar que um burocrata lotado em Brasília possa definir o que meu filho pode ou não assistir no cinema.


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