Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Opinião

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Kassab como emblema

Soube-se ontem que o ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab (PSD) "não teria nenhum problema" em disputar o Palácio dos Bandeirantes como vice do governador Geraldo Alckmin (PSDB).

Por seu valor de face, não é uma declaração capaz de provocar convulsões no universo político-partidário. Feita durante sabatina promovida por este jornal e pelo portal UOL --ambos do Grupo Folha--, pelo SBT e pela rádio Jovem Pan, chama a atenção, entretanto, por escancarar o fisiologismo que subjaz às negociações eleitorais.

Tendo sido vice do também tucano José Serra na prefeitura paulistana, Kassab de fato manteria coerência com seu passado numa eventual aliança com Alckmin. Seria incoerente, contudo, com seu presente, já que afirma ser candidato ao governo de São Paulo.

Mais do que isso, haveria contradições com seu partido, que figura no extenso rol de apoiadores da presidente Dilma Rousseff (PT). Isso para nada dizer das eleições de 2012, quando Kassab e o hoje prefeito Fernando Haddad (PT) ensaiaram uma aproximação.

Eis o pragmatismo levado a seu extremo: mantêm-se abertas todas as janelas com o propósito de aproveitar a melhor oportunidade. Nesse cálculo, o conteúdo é irrelevante, como antecipava o enunciado de Kassab a respeito do PSD: "Não será de direita, não será de esquerda, nem de centro".

Com um ajuste retórico, o ex-prefeito explicou que se referia a uma legenda cujo programa ainda seria definido. Pouco importa; a frase entrou para o folclore nacional --não por ser pitoresca, mas por refletir, sem pudores, o caráter gelatinoso da política brasileira.

O comportamento é generalizado. Siglas como PP, PV, PTB e PRB estão ou estiveram de braços dados com Alckmin e Dilma ao mesmo tempo. O PSB, de Eduardo Campos, ficou anos nessa situação ambígua. O PT terá, em alguns Estados, chapas cujos candidatos a vice-governador virão de agremiações identificadas com a direita.

Num país heterogêneo e agigantado como o Brasil, diferenças regionais são inevitáveis e, até certo ponto, salutares para a democracia. Não se trata, pois, de condenar todo e qualquer descompasso entre a lógica federal e a estadual.

Há um problema, porém, quando a incongruência decorre não de aspectos programáticos, mas de interesses pessoais. Estes costumam ser apresentados pelo político profissional tradicional como se aqueles fossem. Gilberto Kassab nem se dá a esse trabalho.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página