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Opinião

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Antonio Delfim Netto

Reacionários

Há pouco menos de 170 anos, John Stuart Mill, o último dos grandes economistas clássicos, mostrou, antes de Marx, que as leis que regem o sistema produtivo são determinadas por condições físicas e tecnológicas (que ele esqueceu em seu "modelo"), mas que a distribuição do que foi produzido pelo trabalho alugado pelo capital é regulada por instituições humanas geradas pelas leis e pelos costumes da sociedade. Estas, obviamente, podem ser alteradas, porque dependem do direito de propriedade que é, ele mesmo, uma instituição humana muito útil para a garantia da liberdade. Tem sido fundamental e conveniente, mas não é divino.

A grande mensagem que podemos ler na obra de Mill "The Principles of Political Economy", de 1848 ("Princípios da Economia Política"), é que cada momento da história é um instante da aventura humana no processo evolutivo selecionado de maneira oportuna, da longa busca civilizatória que o homem vem perseguindo e que não tem fim definido antecipadamente. Mill, aliás, não concordaria com essa interpretação, uma vez que imaginava, ao contrário de seu antecessor, David Ricardo, que ela terminaria em um "Estado Estacionário" que harmonizaria o homem consigo mesmo e com a natureza.

Os últimos 170 anos mostraram como é difícil "inventar" uma organização social que respeite a liberdade individual, as leis físicas e o avanço tecnológico e, simultaneamente, gere uma distribuição mais equitativa do que foi produzido. O desenrolar histórico acrescentou outro polo à instituição antiquíssima, o mercado, que é um mecanismo relativamente eficiente para coordenar a atividade dos agentes econômicos. Sobre a qual pesa a acusação nunca realmente provada de ter destruído uma primitiva solidariedade natural que um dia existiu entre os homens. O novo polo é a democracia com sufrágio universal que empoderou a enorme maioria que aluga a sua força de trabalho aos proprietários do capital que foi acumulado sob a proteção das leis e dos costumes. Através da urna, ela expressa os seus desejos na escolha do poder incumbente.

É o longo e penoso jogo dinâmico entre as leis físicas e as limitações tecnológicas impostas pelo "mercado" no processo produtivo, contra a exigência de equidade distributiva maior do que a que foi produzida expressa na "urna", que vai sugerindo o caminho do processo civilizatório. Ele claramente não é linear, mas, todas as vezes que se tentou uma "via rápida" para substituí-lo, terminou-se na barbárie. Neste momento de grande confusão mental, em que "intelectuais superdemocratas" se apresentam como portadores da "via rápida", a melhor coisa a fazer é tomá-los pelo que verdadeiramente são: perigosos reacionários!


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