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Carlos Heitor Cony

Assanhamento

RIO DE JANEIRO - Nas últimas semanas, diariamente, as primeiras páginas dos nossos jornais e as primeiras chamadas dos noticiários da televisão, com certa monotonia e uma incerta crítica às nossas autoridades, revelam dúvidas e lamentações contra a Copa do Mundo.

Nunca antes um evento que tradicionalmente mexe com a alma e o corpo dos brasileiros, mesmo daqueles que detestam o futebol, criou um suspense tão sinistro.

Como reagirá o povo antes e durante a realização dos jogos e diante da massa de torcedores de todo o mundo? Na melhor das hipóteses, haverá euforia desenfreada se o Brasil conseguir o hexa. Digamos que no primeiro jogo, a Croácia vença ou empate com a seleção de Felipão. Pronto. Chegaram os dias anunciados pelo "Apocalipse", por Nostradamus e por uma porrada de profetas do Velho e do Novo Testamento.

Dona Dilma, apesar de não ser profetiza nem do Velho nem do Novo Testamento, apelou para a decantada fama da hospitalidade nacional, para o homem cordial louvado por alguns sociólogos.

Acontece que o brasileiro comum nada tem de cordial. Tem o assanhamento herdado dos nossos índios quando viram no horizonte as caravelas de Pedro Álvares Cabral.

Pulando de Cabral para Charles Dickens (1812-1870), lembro um de seus maiores personagens. Mister Pickwick aconselhava seus discípulos: "Quando encontrarem uma multidão gritando viva' ou morra', gritem com a multidão".

Um espírito de porco perguntou: "E se encontrarmos duas multidões, uma gritando viva', outra gritando morra'?" O mestre ensinou: "Então gritem com a multidão que gritar mais alto".

Dona Dilma deve seguir o conselho de Pickwick: esquecer a hospitalidade do homem brasileiro e enfrentar a realidade. E torcer para que Neymar e Fred façam bastantes gols.


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