Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Opinião

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Ruy Castro

A velha e a nova taça

RIO DE JANEIRO - Em 1958, depois de ganhar a Copa do Mundo na Suécia, o Brasil desceu no Galeão trazendo a taça da Fifa. A delegação subiu a um caminhão dos bombeiros e seguiu em triunfo pelas ruas do Rio, até o Catete, onde JK a aguardava, e a consagração em Copacabana. Toda a cidade saiu de casa para ver a taça, erguida por Garrincha, Didi, Bellini, Pelé, Zagallo. Houve uma escala na sede de "O Cruzeiro", perto da praça Mauá, onde ela foi acariciada e beijada por Assis Chateaubriand, pela miss Brasil Adalgisa Colombo e por dezenas de ninguéns.

A taça era uma taça, mesmo: uma mulher alada, sustentando um recipiente para se beber o champanhe da vitória --daí o apelido de "caneco". Só que de ouro. O país campeão era o responsável por ela até a Copa seguinte e, enquanto isso, podia usá-la como quisesse.

Pois aconteceu que, no decorrer daquele ano, ela não parou no cofre da então Confederação Brasileira de Desportos (CBD). Foi passeada pelo Brasil a pedido de prefeitos, vereadores, padres, militares e mandachuvas dos menores burgos. Com ela iam um funcionário da CBD e um campeão do mundo, jogador, treinador ou cartola. Nesses ágapes, bebeu-se de tudo em sua copa, do espumante Peterlongo à caninha Praianinha --tudo, menos Moët et Chandon.

Só por milagre a taça não foi deixada para trás em alguma viagem. Na maior empolgação, ela desfilou por banquetes, Câmaras Municipais, associações comerciais, salões do Rotary Club e, em pelo menos um caso, o principal bordel da cidade. E sabe-se lá quantos não a beijaram e lamberam --a ponto de provocar sapinho na boca de Feola.

A nova taça da Fifa, que está viajando pelo Brasil debaixo de pesada segurança, não é, tecnicamente, uma taça. É um troféu --valioso, mas sem muito charme e nem tão diferente dos que se dá ao vencedor de uma partida entre casados e solteiros.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página