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Carlos Heitor Cony

A sopa

RIO DE JANEIRO - Como qualquer brasileiro, deplorei os acontecimentos tidos e havidos pelo Brasil afora. Mas, honestamente, não me alarmei o suficiente. Acredito que devemos meditar sobre a decantada "índole pacífica do povo brasileiro" --e bota pacífico nisso.

Já foi dito por sociólogos e poetas que a culpa é da sombra das bananeiras que torna indolente o cidadão aqui nascido, sem rasgos para feitos e atos heroicos e decisivos. As grandes mutações de nossa história, da Independência à abertura política, ocorreram sem lances de grande parafernália popular.

As recentes manifestações de rua transformaram-se em baderna por culpa de elementos que aproveitam qualquer tipo de aglomeração para depredar vitrines e tirar algum proveito. Vi as caras publicadas nas fotos, rapazes que não podem ser acusados de extremistas de direita ou esquerda, que nunca leram as teses sobre Ludwig Feuerbach e nunca pertenceram aos quadros ostensivos do DOI-Codi. Baderneiros, eles estão em todos os lugares, para aproveitar as sobras, que sempre as há. Irresponsáveis, mas sem conotação ideológica e política.

Os episódios ainda não tiveram desdobramentos dramáticos. O barril de pólvora, de acordo com os entendidos de plantão, parece que jamais explodirá, apesar da constatação cínica: nos filmes americanos, a cavalaria sempre chega no final. Aqui, a cavalaria chega antes.

O governo, sob a promessa de que não atiraria a policia contra o povo, é obrigado a apelar para o tradicional recurso que, feitas, as contas, procura manter a ordem. Que ordem? A desordem nem sempre é injusta. A ordem, geralmente é.

Por um prato de sopa, os marinheiros do Potemkim provocaram o movimento que acabou derrubando um regime imperial. Felizmente somos brasileiros apesar da sopa que nos obrigam a tomar.


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