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Ruy Castro

Passado ingênuo

RIO DE JANEIRO - Em março de 2011, o uso equivocado de um maçarico por funcionário de uma firma de engenharia provocou um incêndio num patrimônio nacional: a capela de São Pedro de Alcântara, no andar superior do hoje Palácio Universitário, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), antiga Universidade do Brasil, na Praia Vermelha.

O altar em dourado, a cruz de madeira sustentando um Cristo de bronze, o teto de estuque, o mobiliário original e os detalhes neoclássicos, tudo foi carbonizado. Ali, desde 1852, realizavam-se concertos de música sacra e casamentos, e se congregavam os parentes dos internos do então Hospital dos Alienados, primeiro hospício psiquiátrico do continente. Um desses hóspedes, em 1914 e 1919, foi o escritor Lima Barreto, que o descreveu no "Diário do Hospício" e na novela inacabada "O Cemitério dos Vivos".

Em 1948, o hospício foi desativado e o prédio, quase caindo, doado à universidade, que o restaurou e, com toda a falta de verbas, ocupou dignamente. E, então, houve o incêndio de 2011. Três anos depois, como estão as coisas? Mal. Reportagem de Ludmilla de Lima, no "Globo", revela que nem o projeto de restauração, a cargo de uma empresa do ramo, está pronto.

Quando estiver, ele ainda terá de ser aprovado pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). E só então a UFRJ poderá tentar captar, junto ao setor público ou privado, R$ 50 milhões estimados. É coisa para muitos anos.

Isso retrata nossas prioridades na área cultural. No Brasil, cultura tornou-se sinônimo de entretenimento. A preservação do patrimônio histórico é a última das urgências. Mas o que devemos àquele complexo não pode ser mensurado. Só me pergunto se nossa geração tem o direito de desdenhar um patrimônio que o passado nos legou, confiando no nosso senso de responsabilidade.


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