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Ruy Castro

Bolas divididas

RIO DE JANEIRO - As pessoas se perguntam: "Por que o Brasil, com toda a sua história no futebol, nunca produziu grande literatura sobre o assunto?" E citam Nelson Rodrigues: "Nossos escritores não sabem nem bater lateral". O próprio Nelson, um dos maiores, nunca usou o futebol, a não ser de passagem, em seu teatro e ficção. E também não sabia bater lateral.

Mas os ingleses, alemães, italianos, franceses e mexicanos são igualmente loucos por futebol e nenhum deles produziu grande literatura a respeito. Donde, por que nos cobramos tanto? E se o problema não estiver na literatura, mas no futebol?

Talvez os esportes coletivos não se prestem à ficção --pelo menos, com os jogadores como personagens. Onde estão os grandes romances americanos sobre basquete? Ou portugueses, sobre hóquei em patins? Ou escoceses, sobre curling? Ao mesmo tempo, quantos boxeurs, jóqueis, nadadores, corredores de Fórmula 1, enxadristas e outros esportistas isolados já não renderam ficção interessante? O futebol tem muito de épico, mas, em letra de forma, o drama ou tragédia individual é mais comovente.

Já na área da não ficção --biografia, perfil, memória, ensaio, história--, o futebol brasileiro sempre marcou gols de placa. É só lembrar, entre outros, "O Negro no Futebol Brasileiro" (1947), de Mario Filho; "À Sombra das Chuteiras Imortais" (1993), de Nelson Rodrigues; "Os Subterrâneos do Futebol" (1963), de João Saldanha; "Anatomia de uma Derrota" (1986), de Paulo Perdigão; e "Eu e o Futebol" (1973), do ex-jogador Almir de Albuquerque.

Nenhum desses livros contém muito "futebol". Tratam, isto, sim, de seres humanos que viviam de correr atrás da bola, mas cujas almas entraram nas mais perigosas bolas divididas, tanto fora quanto dentro do campo, e das quais nem sempre --ou quase nunca-- eles saíram vitoriosos.


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