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O balanço egípcio

Nos últimos três anos, desde que chegaram à praça Tahrir os ventos da Primavera Árabe, o Egito tem sido palco de intenso confronto entre movimentos democratizantes e forças de perfil autoritário.

Da queda do ditador Hosni Mubarak, em fevereiro de 2011, à primeira eleição livre da história egípcia, em junho de 2012, prevaleceu o ideário democrático.

Mohammed Mursi, vencedor do pleito e líder da influente organização Irmandade Muçulmana, logo recaiu no sectarismo e, um ano depois de sua posse, setores mais seculares do país foram às ruas protestar em nome da democracia.

O que se seguiu, todavia, foi a ascensão do autoritarismo. Deu-se em julho de 2013 um golpe militar que investiu na brutal repressão aos adversários como forma de manutenção do poder; estima-se que, desde então, mais de 2.000 pessoas tenham sido mortas.

Em busca de alguma legitimidade, os militares organizaram, na semana passada, novas eleições presidenciais. Sem nenhuma surpresa, saiu-se vitorioso o general Abdel Fattah al-Sisi, articulador da deposição de Mursi e um dos principais líderes do regime que vinha comandando o país.

A caserna queria acrescentar o apoio das urnas ao poder "de facto" que já exercia, mas atingir esse objetivo mostrou-se mais difícil do que se pensava. Durante a campanha, o general Sisi afirmou que desejava um comparecimento de 40 milhões de votantes, o equivalente a 70% do eleitorado egípcio.

O resultado frustrou as pretensões de Sisi, que empregou todos os meios à disposição para reforçar sua candidatura: a repressão das Forças Armadas, a imprensa subserviente, a intimidação e a supressão das plataformas adversárias de maior peso --a Irmandade Muçulmana é hoje considerada uma entidade terrorista no Egito.

A despeito da imensa pressão, somente 46% dos cidadãos aptos a votar participaram do processo eleitoral, índice menor do que o registrado na disputa de 2012, quando 52% sufragaram algum nome.

Para chegar a esse número, foram tomadas medidas extraordinárias, como a repentina prorrogação da eleição por um terceiro dia e a ameaça de impor multas àqueles que não fossem às urnas. Ao fim, Sisi contou com 93,3% dos votos, contra 3% de seu adversário.

É de imaginar que o presidente eleito não terá pudores em usar esses percentuais a seu favor, exibindo-os como um troféu democrático. O Egito, assim, afasta-se ainda mais da inspiração da Primavera Árabe, retornando, a despeito de tudo, a um governo militar.


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