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Hélio Schwartsman

De funeral em funeral

SÃO PAULO - A vitamina D cura ou não cura a esclerose múltipla? Vacinas podem causar autismo?

Numa perspectiva clássica, a ciência vai, a cada passo que dá, desnudando mais e mais a realidade e, com isso, nos aproxima da "verdade".

Na prática, não é impossível que isso ocorra, pelo menos para os que acreditam em realismo científico. Um bom exemplo é o das teorias atômicas. O primeiro a propor uma delas foi o filósofo grego Leucipo, no século 5º a.C. Ele se baseava apenas em suas próprias especulações. Depois, no século 18, já sob a vigência do método científico, os modelos ganharam apoio da empiria e foram aos poucos sendo aperfeiçoados. Thomson, por exemplo, o descreveu como um pudim de passas. Com Rutherford se tornou o esquema planetário, que ainda aparece em livros escolares. Depois veio a mecânica quântica e a coisa ficou mais difícil de ser representada com desenhinhos.

O ponto central, porém, é que essa descrição só funciona (se é que funciona) como reconstrução histórica de esforços coletivos --a ciência é uma empreitada social. No plano individual, isto é, na visão de cada cientista, idiossincrasias e pendores pessoais se tornam decisivos, o que leva até homens inteligentes a acreditar em coisas estranhas.

O psicólogo Michael Shermer propõe um modelo para explicar isso a que chama de realismo dependente da crença. O cérebro, sustenta o autor, é uma máquina de gerar crenças. Elas vêm em primeiro lugar; é só em seguida que elaboramos as explicações que as justificam. E, uma vez que as crenças estão formadas, o cérebro passa a procurar por evidências que as confirmem, desprezando as que as desmintam. Isso significa que, muitas vezes, nenhum nível de novas evidências fará um cientista desistir de um modelo no qual tenha um alto investimento emocional.

É por essas e outras que Max Planck certa vez afirmou que a ciência avança de funeral em funeral.


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