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Ruy Castro

Beija e balança

RIO DE JANEIRO - Um poema de Vinicius de Moraes, "Pátria Minha", de 1948, diz assim: "Vontade de mudar as cores do vestido (auriverde!) tão feias/ De minha pátria [...]". O diplomata Vinicius referia-se à bandeira nacional, com a qual tinha de conviver em cada canto do Consulado do Brasil em Los Angeles, onde servia. O excesso de verde-amarelo devia embrulhá-lo.

Tudo bem, mas, como diria Antonio Houaiss, peço vênia para discrepar. Depois da má vontade inicial contra a Copa, as cores nacionais já tomam o Rio, na forma de bandeiras, bandeirinhas, camisas, maquiagem, mochilas, adereços de mão, fachadas, pinturas no asfalto etc. E não se limitam a brasileiros. Em cada quarteirão veem-se holandeses, alemães, chilenos e muitos africanos, vestidos com a camisa de seu país e portando uma bandeira do Brasil ou enrolados nela.

Minha geração assistiu à degradação dos símbolos nacionais pela ditadura. Bandeira, hino e brasão nos eram atirados à cara no "Brasil Grande" de Médici e Delfim Netto (1969-1974), como que avalizando os crimes que se cometiam. Não havia como não ser tomado de ojeriza a qualquer patriotada. E a própria expressão "auriverde pendão" tinha um quê de invencível cafonice.

Por sorte, as coisas mudam. Com a redemocratização, veio a lenta reabilitação desses símbolos e cores. No caso da bandeira, comecei a vê-la com outros olhos nos anos 90, quando surgiram as primeiras meninas usando-a como toalha na areia ou saída de praia. Na ditadura, se alguma fizesse isso, seria presa no ato e levada ao pau-de-arara.

Hoje, acho a bandeira bonita. Claro que, empunhada por pessoas com crista moicana vermelha, collant psicodélico e tênis laranja marca-texto, ela parece até discreta. E, afinal, que diabo, trata-se do (perdão, ouvintes) auriverde pendão da minha terra que a brisa do Brasil beija e balança.


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