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Carlos Heitor Cony

Da pátria e dos esparadrapos

RIO DE JANEIRO - A última constatação a que cheguei, tardia como todas as descobertas que faço, deveu-se ao esparadrapo. Nada menos do que isso: o esparadrapo.

Deu-se que, tempos atrás, passeando pela praia, não vi uma linha de nylon esticada à minha frente. A linha entrou pelos dedos do pé e lascou alguns ossinhos, desses insignificantes, que a gente nem sabe o nome e função, mas que colocam qualquer animal naquela nobre postura de bípede aprumado e mais ou menos inútil.

Bem, cumpri as operações de praxe, inclusive uma ida ao Pronto Socorro para imobilizar o pé. E aí começou o martírio: os esparadrapos nacionais simplesmente não têm cola suficiente para serem esparadrapos.

Um cirurgião bastante conhecido há tempos me dizia que era necessária uma campanha nacional e apartidária pelo esparadrapo, pois já passara poucas e boas na hora de fazer curativos em seus clientes. Abria a barriga do freguês, tirava lá de dentro um apêndice inflamado ou uma vesícula fatigada, dava os pontos regulamentares e botava um esparadrapo grande para proteger os pontos. No dia seguinte, o paciente voltava ao consultório, com a barriga aberta e as vísceras querendo vir para fora. Culpa do esparadrapo vagabundo de um laboratório recomendado pelo Ministério da Saúde.

Quem está precisando de esparadrapo nos dedos das mãos, sou eu mesmo. Vivemos dias agitados, com candidatos esbaforidos, em busca de eleitores, com a presidente da República insultada em praça pública, com a seleção da Inglaterra voltando para casa e explicando na Câmara dos Comuns a derrota na Copa do Mundo, com o Joaquim Barbosa pedindo o boné para também voltar para casa.

Com tantos e tais assuntos tão relevantes para a mídia nacional, o cronista preferiu reclamar dos esparadrapos também nacionais.


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