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Otavio Zarvos

Plano diretor de São Paulo em debate

Uma cidade doente

O novo Plano Diretor de São Paulo encarecerá a construção do tipo de apartamento que sempre encantou a classe média

O Plano Diretor Estratégico de São Paulo prestes a ser aprovado foi objetivo com relação ao tipo de apartamento que o paulistano deverá comprar daqui pra frente: se você sonha em morar num apartamento naquela rua tranquila, com duas ou mais vagas de garagens e com mais de 100 m2, pode se preparar para pagar mais pelo seu sonho.

As novas regras encarecerão a construção desse tipo de apartamento que sempre encantou a classe média paulistana. Os construtores deverão erguer menos prédios nos miolos dos bairros e migrar para perto das grandes avenidas com corredores de ônibus ou em regiões a até 500 metros de estações de metrô e trens.

Menos oferta de apartamentos e custos de produção mais altos em virtude da obrigatoriedade de se pagar a outorga onerosa (imposto pago à prefeitura para se erguer o prédio) deve manter os preços altos ou aumentá-los no miolo dos bairros.

Por outro lado, se você topar morar perto de uma avenida com corredor de ônibus ou a até 500 metros de uma estação de metrô, a oferta de apartamentos será grande, os preços não deverão subir ou até diminuirão, uma vez que a maioria dos construtores deverá migrar seus empreendimentos para essas regiões, onde a prefeitura vai permitir a construção de prédios com o dobro do potencial construtivo daqueles nos miolos de bairro, sem limite de altura e com preço da outorga onerosa muito mais baixo.

Mas nem tudo é felicidade. Esqueça as duas ou mais vagas de garagem, pois só será permitida no máximo uma por apartamento, e se você sonha com dois ou mais quartos espaçosos, compre um apartamento para você e sua esposa e um outro para os seus filhos, pois nessas áreas o Plano Diretor prevê a construção de apartamentos compactos (menores do que 80 m2).

Uma novidade positiva do plano será o incentivo ao comércio no térreo dos prédios, o que deverá diminuir a pressão do preço dos alugueis desse tipo de imóvel e tornar a vida de quem anda a pé um pouco menos chata, uma vez que, em vez de andar ao lado de um muro de um condomínio, poderemos ter coisas mais interessantes na calçada.

Os nossos hábitos terão de mudar e, para isso, as propostas do novo Plano Diretor tentam não agravar o problema de mobilidade e seguir o que já é praticado há décadas nas grandes metrópoles dos países desenvolvidos: mais gente morando perto umas das outras, em apartamentos menores, com pouquíssimas vagas de garagem e próximos ao trabalho ou comércio, utilizando o transporte público, de modo a evitar deslocamentos muito grandes, que pioram o trânsito.

A cidade de São Paulo está doente e por isso vamos ter de fazer uma dieta urbanística e cortar os excessos a que estávamos acostumados. Mais ou menos como tirar açúcar do paciente que está obeso: ele não vai gostar, mas, se não fizer isso, morre.

São Paulo sofre não apenas com a falta de planejamento, mas também com a falta de recursos. Se a gente procurar saber o quanto São Paulo manda de impostos para o resto do país e o pouco que recebe em troca, veremos que não é tão simples assim resolver os problemas gigantescos que temos por aqui.

Às vezes eu comparo a nossa cidade a um pai de família, que tem de manter três empregos para sustentar o padrão de vida dos filhos e agregados, trabalhando 16 horas por dia e, quando chega em casa, ainda leva bronca da família porque não faz exercício físico e não adota uma dieta balanceada.

Houve um avanço desse plano em relação ao anterior. Os principais temas urbanísticos que deterioram a qualidade de vida na nossa cidade foram abordados. Ainda há muito o que melhorar, mas daqui a dez anos, quando esse novo plano estiver velho, e formos discutir tudo isso novamente, quem sabe a gente possa ver São Paulo mais saudável e entendermos que, assim como uma pessoa, uma cidade pode rejuvenescer se cuidar da sua saúde.


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