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Ruy Castro

Em torno do Spica

RIO DE JANEIRO - Em vez de assistir a Brasil x Camarões em casa com amigos, birita e piriris, fui para a rua, como nos velhos tempos. No passado, podia-se seguir um jogo pelos rádios de pilha dos porteiros. Eles se postavam na calçada do edifício e, em torno de um poderoso Spica chiando e com estática, florescia uma pequena, mas vibrante e autorizada assembleia de amigos, vizinhos, crianças e talvez o guarda da esquina.

Hoje isso não é possível. Não há mais porteiros à vista. Os edifícios têm grades e os profissionais ficam ocultos por elipse em seus aquários de vidro fumê. Imagina-se que estejam lá dentro, atrás de uma mesa, mas, pelo silêncio, devem estar ouvindo Mahler por headphones ou lendo Merleau-Ponty. Mas claro que não é assim. Entre os monitores pelos quais controlam garagem, elevadores e dependências, há uma TV a que assistem sozinhos, em seus casulos, sem ter com quem trocar ideias.

Em vez das portarias, temos agora os restaurantes, botequins e quiosques. Em Copacabana, são três por quarteirão, todos equipados para congregar multidões de clientes ululantes, com mesas e cadeiras dentro e fora, pelotões de garçons em ação e telas de 60 polegadas em alta definição --indispensável para se perceber cada fio de cabelo descolorido, barba desenhada e sobrancelha depilada dos jogadores.

É o progresso. Só espero que a seleção consiga sobreviver sem os comentários dos porteiros. O Brasil era invencível com eles.

A rua é democrática. Nesta segunda-feira (23), os botequins do Posto 6 tiveram de competir em animação com um aglomerado de mexicanos assistindo a México x Croácia numa esquina próxima e cantando "Cielito Lindo". É o original do nosso "Está Chegando a Hora". Durante 90 minutos, os mexicanos torceram e pularam ao som de "Cielito Lindo", se isto não for uma contradição em termos.


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