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Metamorfoses no Egito

Num julgamento à moda kafkiana, uma corte egípcia condenou seis jornalistas a penas que variam de sete a dez anos de prisão.

Foram acusados de crimes como "colaborar com terroristas" e "manchar a imagem do Egito", mas o que de fato exasperou as autoridades foi a tentativa de entrevistar membros da Irmandade Muçulmana, organização que há pouco liderava o país e foi posta na ilegalidade após o golpe de julho passado.

A situação mostra o quanto o Egito se afastou do ideário da Primavera Árabe. Três anos e meio atrás, insurreições populares revolviam diversos países; ditadores longevos terminaram depostos. Por alguns meses, parecia que a democracia enfim floresceria na região.

A impressão durou pouco. Na Tunísia, palco do levante inicial, o cenário ainda inspira esperança. Mas entre as principais nações que sentiram os ventos da liberdade, os resultados vão do pífio ao desastroso. A Síria, por exemplo, vive guerra civil duradoura e mortífera. Na Líbia, à queda de Muammar Gaddafi sucedeu-se a anarquia.

No Egito, maior e mais populoso dos países árabes, o movimento sucumbiu a uma contrarrevolução que, em alguns pontos, tornou o regime militar ainda mais duro do que era sob Hosni Mubarak.

Com efeito, quatro anos atrás, quando Mubarak se imaginava firme no poder, prisões arbitrárias e abusos, embora ocorressem, não eram tão sistemáticos quanto hoje.

A oposição, representada sobretudo pela Irmandade Muçulmana, estava banida, mas era tolerada. Alguns de seus integrantes ocupavam cadeiras no Parlamento, para o qual concorriam como candidatos independentes.

Agora, opositores foram mais uma vez expulsos da política e, além disso, sofrem forte perseguição. Estima-se que mais de 16 mil membros da Irmandade e simpatizantes estejam atrás das grades.

Nas últimas semanas, um único juiz condenou à morte mais de mil supostos integrantes dessa organização --apesar de tais sentenças quase sempre serem revertidas em cortes superiores, elas constrangem e intimidam.

Verdade que Mubarak nunca permitiu eleições livres, como a que permitiu à Irmandade levar Mohammed Mursi à Presidência, em 2012; tampouco houve, por 30 anos, alternância no poder, como a que a Constituição ora estabelece.

Ainda assim, a decepção é tamanha com o atual regime que muitos egípcios, em certos aspectos, talvez sintam saudades dos tempos do velho ditador. É a última coisa que os manifestantes desejariam após o sonho da Primavera Árabe.


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