Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Opinião

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Ruy Castro

Fantasma a posteriori

RIO DE JANEIRO - Nos dias seguintes à desclassificação do Uruguai na Copa, lamentei que o fracasso da "Celeste" nos impedisse de vingar o "Maracanazo" de 16 de julho de 1950, já que era provável seu cruzamento com o Brasil nas quarta de final. Afinal, nossos locutores levaram as últimas semanas falando desse fantasma que, à nossa revelia, nos assola há 64 anos --como se fôssemos nós, brasileiros de 2014, que tivéssemos deixado o Maracanã naquele dia com o peso do "Maracanazo" nas costas.

Pensei melhor a respeito e me dei conta de que, embora tenha levado a vida sabendo daquele Brasil x Uruguai, só de há uns dez anos para cá --ou menos--, tomei conhecimento da expressão "Maracanazo". Como? Isso mesmo. Ao contrário do que se pensa hoje, o brasileiro não passou o século 20 esmagado por essa palavra que, concluo agora, é apenas uma ideia fixa dos uruguaios.

Para me certificar, fui aos clássicos. Consultei tudo de Mario Filho e Nelson Rodrigues sobre o assunto, e não encontrei uma só referência a "Maracanazo" em suas crônicas. A "Enciclopédia da Seleção, 1914-2002" (Folha Seca, 2002), de Ivan Soter, que reproduz o espírito vigente em cada época da seleção, também não cita a palavra. E, no livro definitivo a respeito, "Anatomia de uma Derrota", de Paulo Perdigão, ela só aparece uma vez, quase no fim, atribuída aos uruguaios, e tão de passagem que eu quase a ia perdendo.

Outro fator de impropriedade da expressão "Maracanazo" é o de que, quando a partida se deu, em 1950, o Maracanã ainda não era... o Maracanã. Era apenas o Estádio Municipal. Custou para que as pessoas começassem a chamá-lo pelo nome do bairro.

Donde "Maracanazo" foi uma criação a posteriori dos queridos uruguaios. E eles fazem muito bem em valorizá-la porque, três gerações depois, seu futebol ainda não superou aquela façanha.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página