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Opinião

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Ruy Castro

A verdadeira dor

RIO DE JANEIRO - No futebol, pior do que o jogador simular uma falta dentro da área é simular dor ao sofrer uma falta em qualquer parte do campo. A primeira é apenas ilegal; a segunda é também imoral.

Acontece em todas as partidas. Um choque, um carrinho, um rapa, suficientes para derrubar o atleta (mas não mais do que isso), são amplificados pela expressão de dor insuportável, o grito desproporcional e a boca escancarada --contando com a TV para registrar a encenação e render um cartão amarelo para o adversário.

Até o jogo contra a Colômbia, Neymar era o campeão dessa modalidade. Como sempre foi muito visado --por carregar demais a bola, na verdade pedindo a falta--, era normal que sofresse várias por jogo. E, em todas, atirava-se como se lhe tivessem quebrado a perna, para logo se levantar, magicamente recuperado, e ele próprio bater a infração.

Uso os verbos no passado porque suponho que, agora, ao conhecer a verdadeira dor --provocada pelo joelhaço do colombiano Zúñiga em sua coluna vertebral--, Neymar sentirá pudor de simular. Deve ter aprendido que a dor autêntica não se imita. E, até em respeito a esta, reagirá de maneira mais séria --e menos como um menino jogando contra adultos-- aos contatos mais violentos. A exemplo de Garrincha, que apanhava muito mais do que ele e jogou numa época pré-cartão amarelo.

Nos anos 50, o Flamengo tinha um ótimo ponta-esquerda, Babá, de 1,54 m de altura. Dava-se particularmente bem contra os beques do Vasco, enormes, pesados e lentos. Um desses, o lendário Ely, de quase dois metros, temia matá-lo se lhe chegasse para valer. Então, Babá --que era só baixinho, mas tinha tronco e pernas grossas e resistia a qualquer tranco-- metia-lhe a bola entre as pernas e, ao deixar Ely para trás, dizia: "Futebol é pra homem! Futebol é pra homem!".


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