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Ruy Castro

Palavras ao vento

RIO DE JANEIRO - Um belo filme de Douglas Sirk, com Rock Hudson, Lauren Bacall e Robert Stack, de 1956, chamava-se "Palavras ao Vento". Lançado hoje, teriam de encontrar outro título. Não há mais palavras ao vento. Tudo que se diz agora, por quem quer que seja e em qualquer lugar, está ao alcance de um microfone ou câmera. E, como tal, passível de ser escutado por pessoas interessadas no que foi dito.

Vide as trocas de telefonemas entre os "ativistas" cariocas, gravadas pela polícia do Rio com autorização judicial. A poucos dias da final da Copa do Mundo, eles se comunicaram intensamente, combinando a preparação, o transporte, a entrega, a colocação e a detonação de explosivos a fim de criar o terror nas imediações do Maracanã. Como desconfiavam de que as ligações estivessem grampeadas, tentavam falar em código.

Mas, que código! Coquetéis molotov eram chamados de "drinques"; bombas, de "livros"; gasolina, de "líquido"; e outras tão óbvias que até um surdo as decifraria. Os meninos da luta armada de 1969-73, leitores de Rosa Luxemburgo, Sartre e Marcuse, eram mais criativos.

A presença, hoje, de câmeras em cada rua, praça, esquina, corredor, hall ou elevador, torna qualquer ação transparente. E, mesmo mudas, essas câmeras fazem com que, se alguém estiver falando no raio de detecção de uma delas, tudo que disser estará sujeito a leitura labial. Os jogadores de futebol sabem disso, tanto que escondem a boca quando fofocam entre si à beira do gramado. Vivemos sob eterna vigilância --antecipada pelas "teletelas" impossíveis de desligar, criadas por George Orwell em seu romance "1984". Não há mais privacidade, nem para se cometer crimes.

O título original do filme de Douglas Sirk era "Written in the Wind" --escrito no vento. Tem mais a ver. O vento já não dispersa as palavras. Transcreve-as.


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