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Carlos Heitor Cony

O Rubicão e o Paraibuna

RIO DE JANEIRO - Segundo o embaixador dos Estados Unidos, Lincoln Gordon, em entrevista para o jornal "O Estado de S. Paulo", o movimento de 64 no Brasil deveria ser incluído "entre os acontecimentos mais importantes para o Ocidente, lado a lado do Plano Marshall, o bloqueio de Berlim e a derrota dos comunistas na Coreia".

Tamanha glória teve lances confusos do ponto de vista militar, embora, sob o ângulo político, as Forças Armadas funcionassem como uma frente ampla coligada especificamente para depor o governo de João Goulart. O chassi do movimento militar montou-se em Juiz de Fora, sob a denominação de Operação Popeye, nome dado pelo general Olímpio Mourão Filho "em homenagem" a seu cachimbo.

No lado paulista, a mesma operação tinha a senha "a criança vai nascer" ou, ainda, "a procissão saiu às ruas". Segundo Vernon A. Walters, adido militar da embaixada dos Estados Unidos, a operação --que envolvia agentes espalhados pelo Brasil e a esquadra americana que daria apoio aos revoltosos, caso o governo Goulart resistisse por mais de 72 horas--, tinha o codinome de "Brother Sam". Mas um morador de Três Rios, que vinha no seu caminhão de Areal, quando viu aquela confusão de viaturas na Estrada União e Indústria, condensou nomes e códigos para sua mulher: "Tá tudo engarrafado, parece que o trem do leite descarrilhou".

A legalidade se rompera desde que as tropas de Mourão ultrapassaram o Paraibuna, invadindo área que não pertencia à 4ª Região Militar. Há sempre um rio nessas horas, desde os tempos de César há uma divisa moral (ou hidrográfica) que marca o limite da consciência de cada general que tenta um golpe de Estado, seja um rio que pode ser atravessado a pé em certos trechos, como o Rubicão, seja mais profundo e largo como o Paraibuna.


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