Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Opinião

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Ruy Castro

Governados pelas palavras

RIO DE JANEIRO - Na Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), tudo remete à palavra --a linguagem verbal. Este ano não foi diferente. Escritores, leitores, organizadores, livreiros, editores, jornalistas, vendedores de cachorro quente e até aqueles visitantes para quem a festa é apenas uma festa, todos estiveram lá por causa da palavra. O que é um alívio num mundo asfixiado por excesso de imagem e ruído.

As mesas de debates, atração maior do evento, são cerimônias da palavra. Nelas discutem-se ideias e informações, mas, neste fim de semana, algumas veicularam também emoção. O mesmo nas palestras paralelas, extra-Flip, às vezes mais pessoais e calorosas do que as da programação oficial. Não faz diferença --as palavras servem para produzir beleza ou inquietação.

Foram elas que governaram os encontros de rua entre os escritores e seus fãs, a resultar nos autógrafos assinados em qualquer lugar; as livrarias duras de gente; os "pés de livros", árvores de cujos galhos pendiam livros para crianças; os jovens que tomaram as praças declamando prosa ou poesia; e a própria educação pela pedra que significa andar por Paraty --seu calçamento nos ensina onde e como pisar.

No sábado, fui acordado pelo som inconfundível de uma máquina de escrever --tec tec tec, tec tec tec. Em Paraty, a ideia de alguém datilografando àquela hora não parecia absurda. Tinha até um ritmo peculiar: cinco ou seis tec-tecs e silêncio; outros tantos e novo silêncio.

Espiei pela janela. Ninguém à vista, exceto dois passarinhos, tipo rolinhas gigantes, num galho da árvore no quintal. Perguntei a Carmen, caseira da pousada, sobre o tal datilógrafo. Ela disse: "Não existe. Quem faz esse tec-tec é a trocal, uma pomba da mata". Ah, bom, estava explicado. E não me decepcionei. Ao contrário. Tinha de ser em Paraty, onde até os passarinhos escrevem.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página