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Opinião

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Gesner Oliveira

TENDÊNCIAS/DEBATES

Por uma nova atitude em relação à água

A água é um recurso escasso. Educação ambiental, aliada a regras de uso e tarifas realistas, será essencial para uma nova postura

Foi necessária uma das mais severas estiagens das últimas décadas na região do Cantareira para a sociedade se dar conta de que a água é um recurso escasso. Embora seja compreensível a preocupação com as medidas emergenciais, as questões fundamentais são de longo prazo e requerem uma mudança de atitude em relação à água. O debate não deve se restringir a como sobreviver nos próximos meses, mas, sim, a como ser sustentável nas próximas décadas.

A falta de planejamento e expansão desordenada das cidades levou ao abastecimento precário, à poluição dos cursos de água e à necessidade de buscar esse recurso em locais cada vez mais distantes e a custos exponencialmente crescentes.

O Brasil precisa reformular radicalmente a gestão da água. Tal esforço pode ser dividido em ações de oferta e de demanda. Do lado da oferta, as perdas no processo de produção e de distribuição são enormes. As empresas de saneamento no Brasil deixam de faturar algo próximo a 40% de tudo que é produzido. Em alguns Estados, as perdas superam 50% e, às vezes, 70%.

Assim, é preciso aumentar a eficiência. Para tornar o ciclo da água sustentável, é urgente reutilizá-la. Para várias finalidades, como o resfriamento industrial, não há necessidade de usar água potável.

A água de reúso é um dos principais caminhos para evitar o esgotamento dos recursos hídricos. Países como Israel, Japão e Austrália já transformam o efluente do esgoto doméstico em água para diversos fins, até para consumo humano, depois do devido tratamento. No Brasil há iniciativas promissoras, como o Aquapolo Ambiental, uma parceria entre a Sabesp e a Odebrecht Ambiental, que deve gerar capacidade de mil litros por segundo para suprir água para o Polo Petroquímico de Capuava (SP). Vários outros Aquapolos precisam surgir.

Em terceiro lugar, é preciso proteger os mananciais. A prioridade é parar de poluí-los, universalizando o tratamento do esgoto. Cerca de metade da população brasileira não tem acesso a serviços de esgotamento sanitário. Com um PIB per capita superior a US$ 11 mil, o tratamento de esgoto deveria ser maior, algo em torno de 95%. No entanto, o país trata apenas 37,5% do esgoto gerado.

Tampouco se pode esquecer do desafio de resolver a gestão dos resíduos sólidos; estima-se que cerca de 40% dos resíduos tenha destinação inadequada no país, o que é visível pelos lixões nas periferias das grandes cidades e pela sujeira das ruas que acaba sendo carregada pelas chuvas para os cursos de água.

Além disso, é essencial erradicar a poluição gerada pelos efluentes industriais. Embora tenha havido avanços nas últimas três décadas e o volume de efluentes industriais seja menor do que o de esgoto doméstico, a carga poluidora do descarte industrial é cerca de sete vezes a do esgoto doméstico.

A estratégia de preservação é igualmente fundamental. A ocupação desordenada e a formação de áreas de risco exigem políticas urbanas firmes, inteligentes e bem coordenadas entre as diferentes esferas de governo.

Do lado da demanda de água, o desperdício é enorme. A água ainda é tratada por grande parcela da população como se fosse um bem livre. Será necessária uma mudança cultural. A água é um recurso escasso. A educação ambiental, aliada a regras rigorosas de uso e tarifas realistas, será essencial para uma nova postura.

Além disso, certas medidas podem ajudar, como a medição individualizada em condomínios, permitindo uma distribuição mais justa da conta e o estímulo à economia.

As iniciativas aqui mencionadas são óbvias. Se forem aplicadas em conjunto, no entanto, formam uma agenda sustentável para o ciclo da água, condição necessária para o futuro do planeta.


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