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Ruy Castro

Pretos e redondos

RIO DE JANEIRO - As reportagens com o empresário e colecionador José Roberto Alves Freitas têm sido de dar água na boca. Ele diz ter uma coleção de cinco milhões de discos LP, bem guardados em sua casa e nos galpões de suas empresas em São Paulo. O LP --vinil, dirá você-- é o antecessor do CD. A sigla corresponde a long playing, ou longa duração. É um disco preto e redondo, de vinilite, com 30 cm de diâmetro e um buraco no meio, que gira a 33 1/3 rotações por minuto no prato da vitrola e contém cerca de 40 minutos de música nos dois lados.

Significa que José Roberto dispõe de 200 milhões de minutos de música, ou cerca de 3,3 milhões de horas --que ele só conseguiria escutar se passasse uns 140 mil dias, ou perto de 380 anos, ao pé do aparelho, tocando faixa após faixa e sem fazer mais nada. E de onde saíram tantos discos? Das coleções de que as pessoas se desfizeram com a chegada do CD, nos anos 80. Foi quando José Roberto começou a comprá-las.

Entendo e aplaudo sua compulsão, porque também tenho uma quantidade de LPs em casa, embora minha coleção seja três zeros menor. Só lamento a ainda baixa incidência de discos de música brasileira em seu acervo --250 mil, segundo ele. É pouco em cinco milhões. Mas já deve ser suficiente para tornar possível uma discografia brasileira em LP, nos moldes da fabulosa "Discografia Brasileira 78 rpm --1902-1964", em cinco volumes, compilada por pesquisadores sérios e lançada pela Funarte em 1982.

Boa parte da história moderna do Brasil está contada em música, e, entre 1951 e 1990, esta foi registrada principalmente em LPs. Como as gravadoras, que deveriam zelar por seu patrimônio, nunca foram de guardar nada, que bom que um particular esteja fazendo essa acumulação.

Se, um dia, ela estiver catalogada, acessível e liberada para digitalização, melhor ainda.


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