Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria
Editoriais
Equívocos em série
No tema da competitividade do país na esfera global, não há como esconder os erros do governo federal e o prejuízo de suas decisões às empresas
O Brasil permanece nas últimas colocações em listas que organizam os países de acordo com a dificuldade para fazer negócios, a qualidade da mão de obra ou o número de horas demandadas para cumprir obrigações tributárias.
São problemas institucionais, por vezes culturais, e dificilmente poderiam ser atribuídos a um governo específico. Quando o tema é competitividade, porém, a responsabilidade da administração federal e o prejuízo provocado por suas decisões aparecem com clareza.
Estudo da consultoria The Boston Consulting Group (BCG) mostra que o custo de produzir aqui é 23% maior do que nos EUA. Em 2004, era 3% menor. Entre 25 países analisados, o Brasil se sai mal também na comparação com outros emergentes, como China, México, Índia e Rússia.
O BCG considerou quatro fatores cruciais: salários na indústria, produtividade, custo da energia e taxa de câmbio. Em todos eles o Brasil piorou nesses dez anos.
Não surpreende, pois, que as empresas brasileiras tenham dificuldade de disputar o mercado internacional e já percam terreno no ambiente doméstico. Calcula-se que, neste ano, a indústria sofrerá contração de quase 2%.
A situação decorre em especial dos seguidos erros de política econômica. Um dos principais, de natureza estratégica, foi o crescente protecionismo e a paralisia na busca por acordos comerciais com outros países, na contramão do que pratica o restante do mundo.
Hoje, as multinacionais conduzem a divisão de produção, que será cada vez mais regionalizada e centrada em locais de baixo custo. O resultado é o isolamento das empresas brasileiras das cadeias globais. Perdeu-se escala e acesso a insumos de ponta, sem o que não é possível competir.
Outro erro foi a decisão de estimular o consumo a todo custo. Para esse fim, o governo expandiu o crédito em excesso e descuidou de suas contas, propiciando um cenário de inflação e juros altos.
As intervenções em vários setores e a miríade de incentivos também bagunçaram o ambiente econômico e comprometeram o crescimento da produtividade. O preço da energia para a indústria, por exemplo, dobrou na última década, segundo a consultoria.
Por fim, o governo fracassou em destravar os investimentos em infraestrutura, outro gargalo que eleva custos e causa desperdícios.
Tudo isso derivou de um diagnóstico equivocado sobre o real desafio a ser enfrentado. O caminho deveria ter sido outro: mais abertura e integração comercial com outras nações, previsibilidade nas regras e ênfase na infraestrutura e na redução de custos, inclusive de juros, o que demanda uma gestão cautelosa do orçamento público.
Para recuperar o tempo perdido, o país precisará adotar uma nova estratégia --ou, mais precisamente, terá de criar uma.