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Carlos Heitor Cony

Getúlio, César e Brutus

RIO DE JANEIRO - Em 1950, ao decidir voltar ao poder em regime democrático, Getúlio Vargas recebeu a carta de um amigo (o mesmo que anos mais tarde escreveria com ele a Carta Testamento), com uma advertência sinistra: "os liberticidas serão sacrificados, o senhor escapou da primeira (1945), não escapará da segunda. Há sempre um Brutus ao lado de um César".

A dicotomia Brutus e César sempre o impressionara.

O golpe de 1937 fora tramado, concretizado e garantido por alguns generais, sendo que dois deles, Dutra e Góis Monteiro, foram os condestáveis explícitos do Estado Novo. Foram também os responsáveis principais de sua deposição em outubro de 1945.

Ao lembrar esta frase, ele sempre a adaptava para si mesmo. Ele era um Getúlio, um Gegê, matreiro, especializado em dar rasteiras nos seus adversários e, eventualmente, nos próprios aliados.

Era também um Vargas, homem de olhar periférico como o dos insetos, capaz de uma visão telescópica do futuro de uma nação.

Criara condições que perduram até os dias de hoje para que o Brasil deixasse de ser um país tipica­mente agrário e, através da modernidade, continuado por outros, pudesse se habilitar ao sombrio átrio da modernidade: a industrialização.

Pensou um dia: por que não unir César e Brutus num mesmo gesto, no mesmo braço?

Unir o Getúlio, paternalista, matreiro e amante do poder a todo custo, com Vargas, o estadista que pensara em termos de futuro, justiça social e estabelecera a estrutura de um país moderno.

Que a história se encarregasse de julgar se Getúlio ou se Vargas mereceriam o opróbrio ou a glória.

Faminto de vitória, bastaria na hora exata, satisfazer o instinto, matar a fome.

Vencer.


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