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Hélio Schwartsman

O mistério de Marina

SÃO PAULO - Como sempre, Rogério Cezar de Cerqueira Leite foi direto na ferida: dá para confiar o comando da nação a alguém que diz crer que o Universo foi criado em sete dias menos de 10.000 anos atrás?

Como Rogério, fico incomodado com essa possibilidade, mas, ao contrário do professor, não definiria tal condição como patológica.

Meu primeiro argumento é matemático. De acordo com o Datafolha, 25% dos brasileiros afirmam crer na versão bíblica da criação do mundo. Outros 59% até acreditam em evolução, mas acham que é Deus quem a guia. Assim, se definimos patológico como aquilo que se desvia da normalidade, então os anormais somos eu, o Rogério e os outros 7,9999...% que consideram que a evolução ocorre sem qualquer interferência divina.

A questão central, porém, é outra. Será que Marina e demais criacionistas da Terra Jovem realmente acreditam no que dizem acreditar? A crer num modelo de arquitetura cerebral cada vez mais popular entre neurocientistas, a resposta é "só às vezes".

Nesse paradigma, a mente é o resultado de um grande concerto de diferentes facções cerebrais, que competem umas com as outras pelo controle. Na imagem de David Eagleman, o cérebro é uma democracia representativa, na qual diversos módulos e sistemas podem ter opiniões divergentes sobre o mesmo tema. Vence quem, naquele momento, se mostra mais eloquente, isto é, consegue persuadir o córtex pré-frontal ventromedial, estrutura que parece ter papel importante no gerenciamento do tráfego de informações entre zonas reflexivas e emocionais da mente.

O bacana desse modelo é que ele permite explicar, sem que precisemos necessariamente recorrer à má-fé ou a oportunismo, casos de pessoas como Marina, que proclamam fidelidade a ideias religiosas fundamentalistas, que, se levadas a sério inviabilizam a biologia, mas nem por isso deixam de tomar remédios desenvolvidos a partir da ciência ateia.


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