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Luiz Fernando Vianna

A idade da pedra

RIO DE JANEIRO - Ao sair da delegacia na última quinta-feira, após depor no inquérito sobre injúria racial de parte da torcida do Grêmio contra o goleiro Aranha, do Santos, Patrícia Moreira, 23, ouviu ofensas e precisou de proteção policial.

Flagrada por uma câmera gritando "macaco", ela atraiu para si toda a indignação provocada pelo episódio, como se, ao agredi-la, pudéssemos purgar o nosso próprio racismo de cada dia. No dia seguinte ao jogo, pedras foram atiradas em sua casa, em Porto Alegre.

"Joga pedra na Geni/Joga bosta na Geni/Ela é feita pra apanhar/Ela é boa de cuspir." (Chico Buarque, "Geni e o Zepelim")

É ingenuidade achar que um episódio de linchamento moral não possa transbordar para a violência física.

"O linchamento, no mais das vezes, são ocorrências de ocasião, porque o movimento se apresenta junto com a oportunidade. Desenvolvem-se em duas etapas: a da constituição da circunstância a partir de um motivo e a da identificação e estigmatização da vítima", escreveu em maio passado, em "O Estado de S. Paulo", o sociólogo José de Souza Martins, maior estudioso do tema no Brasil.

Segundo dito no artigo, está havendo um linchamento por dia no país. Em 2013, eram quatro por semana. Agrava-se a situação.

Pegando-se um conjunto de 2.000 casos, 7,8% atingiram pessoas inocentes, como a dona de casa do Guarujá, morta em maio.

"A mais triste nação/Na época mais podre/Compõe-se de possíveis/ Grupos de linchadores." (Caetano Veloso, "O Cu do Mundo")

Pouca civilização e muita barbárie, os males do Brasil, há cinco séculos, são. A Justiça, que serve a poucos, cede vez ao justiçamento.

"O império da lei há de chegar ao coração do Pará." (Caetano Veloso, "O Império da Lei").

E do Rio Grande do Sul, do Rio de Janeiro, de São Paulo... Ou não.


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