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Ruy Castro
Ou ambas
RIO DE JANEIRO - Entre as qualidades que se exigem de um maître ou garçom estão as de não ver nada, não ouvir nada e não saber de nada. Descobre-se agora que elas são indispensáveis também aos presidentes da República. O que é surpreendente porque, para o vulgo, não há ninguém mais bem informado do que o presidente. Para isso, o Tesouro sustenta uma caríssima comunidade de informações --subordinada a ele.
Vide Lula. Em 2005, quando estourou o mensalão, ele reagiu com surpresa e indignação. Ao se dizer traído --e por gente tão próxima, como Dirceu, Genuíno e o "nosso Delúbio"--, insinuou que não sabia o que se passava sob suas então barbas. Até pediu desculpas aos brasileiros. Depois, ao chamar os mensaleiros de "aloprados", deu a entender que o problema foi o de se deixarem apanhar. Por fim, aperfeiçoando seu pensamento, Lula preferiu decretar que o mensalão simplesmente não existiu.
Dilma também vive sendo surpreendida. Em 2010, quando ainda candidata à Presidência, levou um susto com os supostos malfeitos de Erenice Guerra, sua assistente durante anos e sucessora na Casa Civil. Eleita, Dilma caprichou na escolha de seus ministros, mas logo teve de mandar seis deles para o chuveiro, acusados de corrupção. E, há pouco, espantou-se com o escândalo da compra da refinaria Pasadena, embora fosse ministra das Minas e Energia e presidente do Conselho de Administração da Petrobras enquanto ela estava acontecendo.
Agora, quando tudo parecia em paz e ela podia tratar de sua reeleição, Dilma vê-se de novo admitindo que nunca desconfiou do que está sendo revelado por Paulo Roberto Costa, ex-manda-chuva da Petrobras, sobre o rombo na estatal enquanto ela esteve sob sua jurisdição.
Das duas, uma --ou ambas. Dilma precisa escolher melhor seus subordinados. Ou seus informantes.