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Luiz Fernando Vianna

Rubens e Amarildos

RIO DE JANEIRO - A luta de Antígona contra o tirano Creonte, na peça de Sófocles, é pelo direito de sepultar o corpo de Polinice, seu irmão. Não quer salvar uma vida, apenas dar-lhe um fim digno. Morre sem conseguir.

"Antígona" foi escrita no século 5º a.C. É baliza da civilização ocidental. É uma tragédia. E a jovem tinha, ao menos, um corpo nas mãos.

A família de Rubens Paiva não tem um corpo. Sabe que o engenheiro e ex-deputado morreu em janeiro de 1971, mas não sabe exatamente como nem onde.

Na falta de algo para velar, seus filhos participam hoje, às 13h, da inauguração de um busto perto de onde ele foi torturado --no 1º Batalhão da Polícia do Exército, no Rio.

Em conferência realizada esta semana no ciclo "Mutações "" Fontes passionais da violência", a psicanalista Maria Rita Kehl, integrante da Comissão Nacional da Verdade, destacou o peso que a ditadura militar jogou sobre as famílias dos "desaparecidos": quando reconhecer que seu ente está morto? E como lidar com o luto sem ter um corpo para se despedir? Todas as ditaduras latino-americanas fizeram isso. Mas só no Brasil a impunidade de torturadores e assassinos tornou-se regra que não pode ser violada.

Mesmo levando a sério a alegação de que era uma guerra e, logo, mortes eram inevitáveis, registra-se: há leis também nas guerras; prisioneiros não devem ser executados e corpos devem ser entregues.

Ao anistiar as barbáries do regime militar, a sociedade brasileira referendou o uso ilegal da força por agentes do Estado. E as polícias continuam torturando e matando.

Se não tivesse havido Rubens Paiva, poderia não ter havido Amarildo, o pedreiro morto no Rio em julho de 2013 e cujo corpo (ou o que sobrou dele) nunca foi entregue aos familiares. Esclarecer esses casos não é vingança, mas civilização.


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