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Opinião

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Kenneth Maxwell

A vizinhança

Os brasileiros dão pouca atenção aos assuntos internacionais, especialmente em ano eleitoral, e a maioria dos estrangeiros não presta muita atenção às aspirações do Brasil. Isso não é ruim, se pensarmos na escala da violência no Oriente Médio, nas ambições territoriais da Rússia na Ucrânia, ou nos passos (e tropeços) dos EUA (e de seus desordenados aliados) nas duas regiões. Mas as questões internacionais são mais significativas para o Brasil do que muitos brasileiros parecem imaginar.

A bagunça na vizinhança é um grande problema, especialmente ao sul, na Argentina, e ao norte, na Venezuela.

Cristina Kirchner agora tenta envolver o papa Francisco, George Soros e seu Quantum Fund (que detêm 3,6% da YPF, a estatal petroleira argentina), e até os chineses (com quem busca um swap cambial de até US$ 11 bilhões) em sua campanha contra os que define como "abutres" --os credores que se recusaram a aceitar acordo depois do imenso calote de US$ 95 bilhões da dívida externa argentina, em 2001. A questão envolve a Justiça da Nova York.

O juiz dos EUA Thomas Griesa decidiu que a Argentina só pode pagar os credores que participaram da reestruturação de sua dívida caso pague na íntegra o que deve aos credores não participantes. Por não fazê-lo, a Argentina está tecnicamente em moratória há dois meses, sem acesso aos mercados internacionais de crédito. Um tribunal de recursos dos EUA sustentou a decisão de Griesa, e a Corte Suprema não viu motivo para revisá-la. Para Kirchner, seu país é uma vítima. Para os credores não participantes da reestruturação, com assessoria da ex-secretária de Estado norte-americana Madeleine Albright, a questão é de justiça. Enquanto isso, as reservas cambiais argentinas encolhem (são estimadas em US$ 28 bilhões), a fuga de capitais prossegue, e a inflação passa os 40% anuais.

A Venezuela apresenta um conjunto igualmente emaranhado de dilemas. Nicolás Maduro também culpa estrangeiros mal intencionados. Desde Hugo Chávez, certamente não existe amor entre os EUA e a Venezuela. Os chineses, enquanto isso, emprestaram US$ 50 bilhões à Venezuela desde 2007, com pagamentos em petróleo. A Venezuela também fornece petróleo subsidiado a Cuba, Jamaica e Nicarágua. Cuba envia médicos ao país em retribuição. Da última vez que o banco central e o serviço nacional de estatísticas venezuelano divulgaram números sobre a inflação (em maio), ela era de 61% ao ano. Estima-se que as reservas cambiais tenham caído para US$ 20 bilhões. Há escassez de alimentos e remédios.

Os problemas argentinos e venezuelanos não são novos. Os dois se alimentam de velhas narrativas do populismo nacionalista. Mas --pela proximidade, alianças e acordos comerciais e políticos-- ambos afetam o Brasil, goste-se disso ou não.


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