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Rostos de aluguel

Conforme se exagera na publicidade política, há o candidato falso, o eleitor falso, o partido falso e, agora, até o "falso eleitor falso"

Gestos aprendidos, convicções postiças, promessas produzidas conforme o receituário das pesquisas de opinião: nada disso é estranho a qualquer campanha eleitoral. Também são mestres, os marqueteiros, na composição do cenário televisivo, seja o da simpática ruazinha popular, seja o do moderno gabinete de trabalho.

Apresentadores especialmente contratados conferem, muitas vezes, a credibilidade e o tom honesto que faltam aos candidatos. Nas calçadas, nos postos de saúde, nos parques públicos, supostos representantes da população, escolhidos a dedo, externam críticas ou elogios ao governo de turno, com miraculosa espontaneidade.

Tudo isso era conhecido. O que não se sabia --e reportagem publicada ontem (25) por esta Folha apresentou vários exemplos do fenômeno-- é que existem modos ainda mais baratos, e mais falsos, de promover a fotogenia eleitoral.

A campanha precisa de uma jovem mãe afrodescendente? De uma quarentona animada de classe média? De um idoso em boas condições de saúde? Não é mais necessário contratar modelos especializados para um cartaz de candidato.

Uma empresa americana, a Shutterstock, disponibiliza cerca de 40 milhões de fotos para todos os gostos, todas as candidaturas, todos os problemas e todas as soluções que interesse contemplar.

A imagem de uma criança vitimada pela seca, encomendada para conferir veracidade às declarações de um peemedebista baiano, provém do sul da África. A foto de uma simpática entusiasta do PSDB paranaense já serviu para defender os direitos da mulher na República Dominicana. Uma conhecida garota indiana exalta, sem saber, os méritos de um petista na Bahia.

Se uma fotografia desse tipo custa, no máximo, R$ 24, gasta-se no mínimo R$ 1.000 para produzir o material com um eleitor "real". A comparação, para ser mais exato, dá-se entre um falso eleitor "verdadeiro" e um falso eleitor "falso".

Com tantos falsos partidos e falsas intenções de governo, talvez fosse o caso de ir além. Em vez de cobrir o político com camadas de maquiagem e botox, debaixo das quais mal e mal se articulam a máscara das legendas que se trocam e das ideologias que se vendem, valeria quem sabe recorrer em definitivo a esses rostos de aluguel.

Os felizes clientes de um banco, o sexagenário bem disposto de um conglomerado de planos de saúde, o novo morador de uma incorporação imobiliária ou o boiadeiro do agronegócio poderiam saltar, assim, dos anúncios para a vida real, assumindo o papel dos próprios candidatos. O panorama político ganharia, se não em verdade, pelo menos em beleza física.


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