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Ana Estela Haddad

São Paulo Carinhosa com suas crianças

É premente resgatar a criança. Nenhuma sociedade poderá ser melhor do que aquilo que puder oferecer a cada uma de suas crianças

Que lembranças você guarda da infância? Passando pela rua, vi o prédio onde morei desde que nasci. Eu passeava com minha mãe pelo quarteirão, que parecia um longo caminho. Sentava sempre no mesmo muro, armava os animaizinhos de plástico coloridos, e era uma vez uma floresta. Ficava feliz quando parávamos para comprar chocolate. Até hoje comer um chocolate daquela marca tem para mim o sabor da infância.

Na Idade Média, o conceito de infância não existia e as crianças não eram consideradas sujeitos com direitos. A escola está associada à construção social da infância e desloca-se também o seu lugar na família. Um conjunto de saberes sobre a criança na pediatria, na psicologia e na pedagogia passaram a orientar os cuidados familiares e a educação infantil.

No Brasil, os cuidados com crianças de zero a três anos, vinculavam-se à área da assistência social. Um importante avanço foi a passagem da creche para a área de educação, com a elaboração de diretrizes curriculares e a ampliação do financiamento público.

Para uma infância feliz, cada bebê depende de cuidadores com quem possa estabelecer vínculos afetivos estáveis, de um ambiente seguro e protegido e de nutrição adequada. É por isso que o programa São Paulo Carinhosa se inspirou no Brasil Carinhoso, do Ministério do Desenvolvimento Social, que coloca a primeira infância como prioridade para superação da extrema pobreza.

Evidências científicas comprovam os efeitos devastadores, irreversíveis e com reflexos ao logo de toda a vida, das situações de negligência e violência vivenciadas durante os primeiros anos de vida.

Meninos com não mais de oito anos de idade vivendo em situação de rua no centro da cidade, próximo à Sala São Paulo, fizeram certa vez um relato de que uma das coisas mais difíceis que sentiam na rua, era quando na entrada e na saída dos espetáculos, a rua estava repleta de pessoas para as quais eles eram completamente invisíveis.

Na Política Municipal para a Promoção do Desenvolvimento Integral da Primeira Infância, procura-se combinar o compromisso com os direitos sociais e civis das crianças com o resgate da cidadania em territórios vulneráveis.

Um olhar especial é dirigido às crianças e adolescentes em situação de acolhimento e que estão privadas do convívio familiar. São cerca de 3.000 com até 18 anos. Em uma das instituições com as quais trabalhamos, temos o caso de dois irmãos. O menino, 9, tem paralisia cerebral. A menina, 6, está perdendo os cabelos por razões emocionais. Falta-lhe possivelmente o vínculo afetivo maior.

Em outra instituição, adolescentes gestantes conversavam conosco. Algumas resgatadas na rua, outras em casa, tendo sofrido abuso sexual e violência intrafamiliar.

Para além de tantos constrangimentos, elas têm de lidar com a gravidez, sem ter tido ainda a consciência da sua própria sexualidade, das mudanças no corpo, da passagem de menina a mulher. Como exigir a maternagem de quem não pôde receber os cuidados de um pai ou uma mãe afetuosos e zelosos? O que esperar de quem teve seus direitos elementares violados?

Resgatar a criança é premente. Garantir-lhe amor, dignidade e respeito é decisivo para suas lembranças da infância. Nenhuma sociedade poderá ser melhor do que aquilo que puder oferecer a cada uma de suas crianças.

Neste Dia da Criança, desejo que toda criança possa ser, de fato, feliz.


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