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Opinião

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Tentações bolivianas

Lastreado em uma política econômica responsável e em populares programas sociais, Evo Morales conquistou no domingo (12) seu terceiro mandato consecutivo como presidente da Bolívia.

O resultado oficial ainda não foi anunciado, mas, de acordo com pesquisas de boca de urna, Morales deve vencer com 60% dos votos e assegurar dois terços de deputados e senadores, cota suficiente para aprovar reformas sem precisar negociar com a oposição.

O momento socioeconômico da Bolívia é todo favorável a Morales. As reservas internacionais foram multiplicadas por seis em suas gestões, que obtiveram sucessivos superavit fiscais. Desde que chegou ao poder, em 2006, o PIB do país tem crescido, em média, 5% ao ano, com a inflação sob controle.

Além disso, programas sociais ajudaram a reduzir a pobreza de 38% para 18% da população.

Grande parte da bonança tem sido financiada pelo aumento da arrecadação, via nacionalização e incremento de impostos, com o gás exportado para Brasil e Argentina.

Hoje, a venda do combustível corresponde a 20% do PIB boliviano, mas o faturamento tende a cair no médio prazo, levantando dúvidas sobre a sustentabilidade desse "boom" numa economia pouco diversificada e com 60% da mão de obra na informalidade.

Se na gestão econômica Morales se afasta do populismo que assola a Venezuela, no campo político ele se assemelha a Hugo Chávez e mesmo a Fidel Castro, a quem o boliviano dedicou a vitória.

Seu segundo mandato só foi possível graças à introdução da reeleição presidencial na Constituição de 2009, enquanto seu terceiro período no governo se deve a uma interpretação casuística da Justiça --não se contabiliza a primeira eleição, por ter sido realizada antes da promulgação da nova Carta.

Em tese, trata-se da derradeira incumbência de Morales, 54, mas será grande a tentação continuísta. Com maioria no Congresso e sem herdeiro definido, o presidente já abriu caminho para aventuras. O Judiciário é dócil, a imprensa torna-se cada vez menos livre e a oposição sofre perseguições.

Evo Morales poderá, com os cinco anos do novo mandato, tornar-se o líder boliviano mais longevo desde a redemocratização do país, em 1982. Se manobrar para ficar no cargo, deixará a lista de presidentes para entrar na de caudilhos.


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