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Hélio Schwartsman

O preço da delação

SÃO PAULO - Quarenta anos, quatro meses e seis dias na prisão é um bocado de tempo. Ao que tudo indica, com a esperança de subtrair um naco a essa longa sentença, Marcos Valério Fernandes de Souza decidiu falar, lançando acusações contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como mostrou "O Estado de S. Paulo". A pergunta central é: podemos acreditar em Marcos Valério?

Nossa tendência é desconfiar de tudo o que aparente ser uma barganha em busca da delação premiada. Além de colocar um incentivo óbvio demais para a denúncia, o instituto desperta a mais vívida repulsa moral. A história abomina traidores. Nomes como os de Judas Iscariotes e Joaquim Silvério dos Reis são até hoje sinônimo de perfídia e torpeza. No caso de criminosos que acusam seus cúmplices, recai uma dupla condenação moral, por delinquir contra a sociedade e por não se manter fiéis para com seus companheiros.

Nossa obsessão para com a lealdade tem raízes no Pleistoceno. Nos tempos em que vivíamos em pequenos bandos, um parceiro não confiável era a maior ameaça concebível à sociabilidade. Só que os tempos mudaram. Hoje, vivemos em cidades de milhões de habitantes e nossos relacionamentos se sofisticaram. Já não dependemos do companheiro de caça, mas de longas e anônimas cadeias de produção de bens e de administração pública, extremamente vulneráveis à ação de quadrilhas.

Um pouco de pragmatismo, portanto, exige que tentemos conciliar a repulsa para com a ideia de traição à necessidade de aprimorar a repressão à delinquência, a de políticos ou a comum. A colaboração de criminosos com a Justiça é uma ferramenta valiosa demais para ser desprezada.

Temos bons motivos para desconfiar das declarações de Marcos Valério. Mas, como o PT ensinou nos tempos em que era oposição, o pecado maior é não investigar políticos sobre os quais pese alguma suspeita, sejam eles quais forem.


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