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Ousadia no Fed

Banco central dos EUA surpreende ao vincular taxa de juros com nível de emprego, mesmo que cresça a expectativa de inflação

No mundo que lida com as minúcias teóricas e com os riscos práticos das ações dos bancos centrais, causou espanto que o Fed tenha anunciado uma espécie de meta para a taxa de desemprego.

O banco central americano informou que a taxa básica de juros ficará perto de zero até que a taxa de desemprego de 7,7% caia a 6,5%.

A meta para o desemprego não é incondicional. Caso a inflação supere 2,5%, os juros subiriam. Qual seria então a grande novidade da nova carta de intenções do Fed?

Desde 1977, a lei que rege o banco explicita que a política monetária (juros e crédito) será orientada a promover o objetivo de máximo emprego combinado com o de estabilidade de preços e taxas de juros moderadas. É o que se chama de "duplo mandato" do Fed.

O duplo mandato jamais havia sido levado muito a sério. No curto prazo, desemprego e inflação baixos nem sempre seriam compatíveis. No caso de conflito de objetivos, a estabilidade de preços deveria vir em primeiro lugar, ditava a doutrina predominante.

A doutrina padrão foi abalada pela crise de 2008. Desde então, o Fed e vários bancos centrais adotaram medidas nada convencionais.

Em janeiro deste ano, o Fed forneceu a primeira pista de que daria consequência prática ao duplo mandato. Afirmou que, "em geral", os objetivos de máximo emprego e preços estáveis são complementares, mas nem sempre. No caso de desemprego ou inflação excepcionais, o Fed deveria agir também num regime de exceção, o que tem feito.

O Fed tem instrumentos para afetar a taxa de desemprego? Se tem, porque até agora não atingiu sua "meta"? Decerto a direção do banco central americano sabe que muitos fatores do desemprego estão fora de seu alcance. Pode oferecer condições necessárias (juros baixos), mas não suficientes, para animar o mercado de trabalho. Então de que se trata?

Trata-se de influenciar expectativas. Mesmo que as projeções de inflação comecem a subir, vai passar um tempo até o Fed reagir à opinião do mercado. O banco atua preventivamente para desarmar expectativas de alta de juros nos próximos dois anos, ao menos.

Há riscos nessa estratégia. Pode ser que os EUA passem por longa fase de desemprego alto. Neste momento, por exemplo, as empresas americanas em disputa pelo desanimado e competitivo mercado mundial reduzem custos e mão de obra. O Fed arrisca ainda estimular uma já temida nova bolha no mercado de títulos de dívida pública e privada.

Mais excepcional que a promessa de segurar os juros enquanto o emprego não deslanchar é, ainda, a degradação econômica que ensejou tal medida extraordinária. A crise de 2008, ao que parece, se estenderá por ao menos uma década; preocupa, além disso, a possibilidade de que a tentativa de remediá-la reduza a competitividade dos EUA ou produza novas bolhas.


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