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Opinião

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Palafitas em Pinheiros

Ficou famosa a cena registrada pelo cineasta italiano Federico Fellini em seu filme "Roma", de 1972: escavações para a construção do metrô revelam afrescos milenares, que, em contato com o ar externo, se apagam das paredes.

Comparada às espessas camadas de história em Roma, São Paulo é uma folha de papel. Isso não significa, todavia, que a cidade seja desprovida de passado.

Embora pouco expressiva em seus primeiros séculos, a vila fundada por jesuítas em 25 de janeiro de 1554 tornou-se, a partir do final do século 19, um polo próspero e dinâmico. No século 20, tornou-se a maior cidade brasileira -e uma das mais populosas do mundo.

A exploração de um sítio arqueológico no bairro hoje quase central de Pinheiros, em meio a trabalhos de reurbanização da avenida Faria Lima, permite agora vislumbrar algo da vida pretérita da metrópole. Milhares de fragmentos de objetos foram achados, além de resquícios de estruturas urbanas, como fundações de casas e antigos trilhos de bondes.

A presença de palafitas naquela região, por exemplo, faz lembrar que o rio Pinheiros não foi desde sempre um canal estreito e poluído, mas um curso d'água sinuoso, que alagava várzeas nas épocas de chuvas. Já abrigou em suas margens clubes esportivos, provas de natação e competições náuticas.

Nos anos 1920 iniciaram-se as obras de retificação do rio, que prosseguiram até a década de 1950. O projeto não era apenas combater as inundações, mas canalizar as águas e inverter seu curso para acionar a usina Henry Borden, em Cubatão, de maneira a aproveitar o desnível da serra do Mar.

A análise dos objetos localizados pela equipe do arqueólogo Plácido Cali -como xícaras, canecas, sopeiras e louças novecentistas- ajuda a entender o passado do bairro. Antes do século 19, ali funcionavam estalagens para quem deixava São Paulo em direção a Sorocaba ou ao sul do Estado e do país.

Mais que a descoberta de improváveis maravilhas soterradas, o que ressalta dos trabalhos arqueológicos é a própria emergência do tempo histórico à superfície de uma metrópole habituada a viver na urgência do presente e a tratar seu passado como afresco efêmero, impossível de reter na parede da memória.


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