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Ruy Castro

Papo com Iemanjá

RIO DE JANEIRO - Dois milhões e tanto de pessoas no Réveillon de Copacabana, mais as que festejaram o ano com palanque, shows e fogos no Flamengo, na Penha e na Ilha do Governador, em São Conrado, Madureira, Ramos e nos morros -é muita gente pedindo saúde, paz e amor à meia-noite em ponto. E isso só no Rio. Imagine o engarrafamento no trânsito de mensagens para o além. É como se todo mundo mandasse e-mails para o mesmo endereço ao mesmo tempo e inundasse a caixa postal.

Deve provocar um tilt no sistema e fazer com que muitas mensagens não cheguem, daí tanta gente no mundo ficar sem os ditos saúde, paz e amor no decorrer do ano. O mundo, aliás, é a prova de que os poderes invocados em 31 de dezembro estão longe de atender à demanda -raro o dia em que, em algum lugar, não há uma crise envolvendo a saúde, a paz ou o amor. Quando não surge uma doença na África, é um massacre de milhares no Oriente Médio ou uma jovem que se mata em Brás de Pina porque levou um fora do namorado.

A própria Iemanjá não está dando conta das oferendas que lhe dedicam, e não se limitam às flores. Por sua fama de orixá vaidosa, há quem a cumule de joias, bijuterias e espelhos, ou lhe sirva uvas verdes e champanha (ou cidra), deixando as garrafas e taças na areia. Como Iemanjá não tem como levar tudo isso para casa, cabe à nossa brava Comlurb absorver o excesso.

Mesmo o mar está custando a engolir as toneladas de flores para sua rainha. Consciente disso, um grupo de poetas aqui do Leblon armou um jardim à beira-mar para Iemanjá, em vez de atirar flores na água. "Flores, sim, poluição, não", foi o mote. Ótimo se o exemplo se propagar por outras praias nos próximos Réveillons.

Como todo ano, desci à areia e bati um papo com Iemanjá. E, como nenhum dos dois pede ou cobra nada, entendemo-nos muito bem.


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