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Opinião

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Rogerio Meneghini

TENDÊNCIAS/DEBATES

Um passo para o intercâmbio internacional

Universidades brasileiras deveriam aproveitar a crise na Europa para estimular o intercâmbio de professores; a opção pelo inglês seria livre

A aspiração para promover ascensão da cultura e da ciência paulistas foi o detonador provido por uma elite do Estado de São Paulo dos anos 30. O combustível se constituiu na instabilidade política e econômica da Europa nessa época.

Uma comissão de busca foi ao continente para convencer cientistas da França, da Itália e da Alemanha a migrar para São Paulo e a ensinar numa universidade que veio a ser criada em 1934. É muito claro que, sem esta migração catalisada, o trajeto da USP seria outro e certamente ciência não teria sido uma atividade mor de seu ideário.

O atual cenário mundial traz similitudes ao dos anos 30: uma forte e duradoura crise econômica na Europa e uma aspiração das universidades a um Intercâmbio Internacional (IcIn) crescente.

Os rankings mundiais deixam claro a sofrível classificação no ensino e na pesquisa de nossas universidades, em grande parte devido à debilidade do IcIn.

Embora tardios, setores governamentais e instituições de fomento têm tido iniciativas intensas de IcIn; porém estas privilegiam mormente estágios no exterior, em sua maior parte por períodos que não ultrapassam um ano. Ainda é cedo para estimar os benefícios desses estágios relativamente curtos.

A outra mão, a de imigração para o Brasil, traz, sob vários aspectos, maior impacto. Há programas modestos e de curta duração da Capes e da Fapesp para a vinda de professores do exterior por períodos que não superam um ano.

Porém, não nos iludamos: iniciativas de agências de fomento criam estímulos, mas dificilmente mudarão o cenário se não houver uma política proativa das universidades visando a vinda de professores altamente qualificados do exterior, com vínculos para estágios longos, se não permanentes. Muitos deles se disporiam a deixar seus países.

Pode-se adiantar que poucas de nossas universidades têm condições para isso. O modelo meritocrático choca-se com vícios enraizados nas universidades públicas: uma forte endogenia favorecendo o ingresso na carreira docente dos graduados na própria instituição, uma isonomia salarial que não contempla a competência acadêmica e um caminho praticamente único de entrada na carreira pelo nível mais baixo.

Uma ruptura dessas tendências é quase impossível nas universidades públicas federais, onde a ausência de autonomia e a atuação sindical prevalecem. Há, porém, uma situação mais favorável nas universidades estaduais de São Paulo e talvez de outros Estados.

Nestas, poder-se-iam contemplar as seguintes iniciativas: professores universitários de várias áreas, com significativo prestígio internacional, seriam identificados por uma comissão de alto nível criada pela universidade local e com maioria de membros de fora desta universidade.

Esta entraria em contato com os elegidos a partir de um escritório próprio instalado na Europa, convidando-os para uma permanência mínima de três anos, com possibilidades plenas de extensão. A escolha pela comissão substituiria o concurso de praxe e o salário oferecido não teria que ser o estipulado pela carreira docente.

Os recursos, próprios, proviriam de uma fundação específica criada pela universidade, de dotações privadas. Uma vez aceito, o professor teria que ter um projeto de pesquisa aprovado por uma agência de fomento brasileira e/ou internacional.

A opção do professor por usar a língua inglesa em suas comunicações institucionais e didáticas seria livre e também um ponto de lança para o emprego da língua no ambiente acadêmico.

Esse seria efetivamente um passo expressivo para o IcIn e de certa forma uma cópia atualizada de uma iniciativa de 80 anos atrás.


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