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Marco Vicenzino

O chavismo sobreviveria sem Hugo Chávez?

NÃO

O fim do culto personalista

Sem seu protagonista principal, Hugo Chávez, o chavismo acabaria minguando com o tempo. Mas o ritmo da "deschavização" seria ditado por diversos fatores.

Se forças chavistas vencessem uma eleição antecipada pós-Chávez, o potencial de uma transformação geracional mais longa aumentaria. Prevaleceria uma unidade inicial aparente, especialmente durante o período de luto, e seriam feitas tentativas de implementar medidas mais radicais.

Mas o sectarismo existente acabaria por se manifestar, de formas variadas. Na ausência de sua figura unificadora, o chavismo se desfaria com o tempo.

A ideologia baseada no culto de personalidade a um indivíduo isolado praticamente se esgotou. Boa parte dela agora é baseada no poder bruto tradicional e na patronagem política. O chavismo está lutando para levar adiante a generosidade com seus partidários em casa e em toda a América Latina. Mas, no longo prazo, ele é simplesmente insustentável: não apenas cospe no prato em que comeu, como acaba com ele por completo.

Certo legado vai perdurar, especificamente os programas para o setor social, ainda que modificados. Até mesmo o candidato oposicionista Henrique Capriles reconheceu esse fato na eleição presidencial de 2012.

Como foi o caso de outras democracias regionais, Brasil inclusive, a Venezuela poderá desenvolver um setor social responsável, com uma sociedade aberta, sem repressão política, intimidação e polarização.

A despolitização do uso dos petrodólares, através de maior transparência e prestação de contas, poderia garantir benefícios mais amplamente distribuídos pelo espectro sociopolítico.

Já uma vitória da oposição numa eleição antecipada pós-Chávez poderia assinalar o início mais veloz de uma transformação. Seria priorizada uma nova política externa, que refletisse os interesses nacionais da Venezuela e não as convicções ideológicas de uma pessoa. Muitos dos dependentes regionais de Chávez se veriam em uma realidade difícil.

No front doméstico, o caminho que levaria a mudanças é longo e árduo. Tirando um golpe chavista ou uma recusa em renunciar ao poder, haveria uma abertura política. O fim das violações de direitos humanos, menos intimidação e repressão e o retorno da liberdade completa de imprensa têm força para desencadear mais transformações.

A maior resistência seria imposta pelo chavismo institucionalizado, que domina os principais instrumentos do poder estatal.

Na PDVSA, a estatal petrolífera venezuelana, a incompetência e má gestão exigem mudanças imediatas, como a colocação de tecnocratas apolíticos qualificados. É necessário instaurar uma abordagem de baixo para cima, voltada à obtenção de resultados.

Seria essencial nomear um novo ministro da Defesa, que conquiste respeito em todo o espectro militar.

Seriam necessárias reformas para devolver responsabilidade maior aos líderes civis. Uma transformação gradual do oficialato, repleto de chavistas de carteirinha, é especialmente necessária.

Um Judiciário dominado por chavistas certamente dificultaria a "deschavização". A nomeação de juízes apolíticos qualificados garantiria objetividade maior ao processo legal.

Ademais, a inserção de figuras não chavistas nos organismos eleitorais permitiria um processo eleitoral mais equilibrado. A nomeação de novos diretores dos veículos de mídia estatal também acelerariam o processo de transformações.

Uma reconciliação nacional exige uma abordagem inclusiva: é preciso evitar represálias, exceto em casos de delitos mais graves.

De modo geral, mesmo que elementos chavistas tomassem mais tempo para sumir, a transformação geracional acabaria prevalecendo.


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