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Impasse no Egito
A declaração alarmista do chefe das Forças Armadas egípcias, general Abdel Fattah al Sisi, de que o Estado corre o risco de colapso é um sintoma da incapacidade do governo do presidente Mohamed Mursi para controlar sozinho as forças que lhe fazem oposição.
Mais que uma ameaça de retorno dos militares ao poder, que reverteria a Primavera Árabe no seu país-símbolo, a fala do general, também ministro da Defesa, constitui um lembrete sobre a importância do poderio militar para controlar as manifestações violentas no Cairo e em cidades como Port Said, Suez e Ismailia.
A contrapartida, deduz-se, seria um maior envolvimento das Forças Armadas nas decisões do governo.
Em sete meses no poder, o presidente -oriundo da organização religiosa Irmandade Muçulmana- mostrou-se incapaz de conter a oposição que lhe é movida por setores mais secularistas.
Dois anos após o início dos protestos que derrubaram o marechal Hosni Mubarak, o presidente egípcio é acusado de recorrer a métodos similares aos do ex-ditador, como concentrar poderes na Presidência e empregar violência para reprimir manifestações populares.
Mais de 50 pessoas já morreram e mais de mil ficaram feridas desde a sexta-feira nos protestos. Multidões, frustradas com a ausência de reformas profundas, saíram às ruas em desafio ao estado de emergência e ao toque de recolher impostos no domingo.
A instabilidade contamina a economia. Os principais hotéis do Cairo sofrem com os distúrbios e a insegurança; turistas estrangeiros se mostram receosos em retornar ao país, o que prejudica um dos principais motores da economia local.
O desemprego está perto de 12%, e a estimativa do Fundo Monetário Internacional é que o PIB do Egito tenha crescido 2% no ano passado. Um resultado similar ao de 2011, mas muito distante dos obtidos nos últimos anos do regime de Mubarak, quando a economia chegava a crescer mais de 7% ao ano.
O governo tenta há vários meses obter um empréstimo de US$ 4,8 bilhões do FMI, para sanear suas contas e atrair investidores, mas a incapacidade de promover as reformas exigidas pelo Fundo torna o aval cada vez mais distante.
A melhor saída para Mursi pôr fim à convulsão política seria negociar com oposicionistas. Caso contrário, o primeiro governo democrático do país arrisca ser engolfado por uma espiral de violência e preparar o terreno, aí sim, para alguma aventura dos militares, que se apresentariam como a única força capaz de manter o Egito unido.