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Itália fraturada
Embora sem chances de voltar ao governo, possível segundo lugar de Berlusconi na eleição de hoje é o maior sintoma da instabilidade no país europeu
Para a surpresa de muitos italianos e do mundo, Silvio Berlusconi está de volta à cena política, pouco mais de um ano após ter sido enxotado do governo.
Em meio à crise econômica e a escândalos sexuais, o homem mais rico da Itália foi dado como politicamente morto, mas ressurgiu das cinzas para comandar a campanha de seu partido, o PDL.
Com base em propostas populistas, como a de reduzir impostos em período de graves dificuldades orçamentárias, o PDL vinha subindo nos levantamentos sobre as eleições de hoje e amanhã (a duas semanas do pleito é proibido publicar pesquisas eleitorais na Itália).
Embora em ascensão, Berlusconi tem poucas chances de ocupar o cargo de premiê pela quarta vez. Ele deve disputar o segundo lugar com o independente Beppe Grillo, ex-comediante que vem conquistando eleitores com seu Movimento Cinco Estrelas (M5S, em italiano) e um agressivo discurso contra a política tradicional.
Nenhum dos dois seria levado a sério numa democracia tradicional, mas não é de hoje que a da Itália se afastou da normalidade.
O ex-premiê, investigado por crimes que vão de evasão fiscal à contratação de prostitutas menores de idade, promete devolver o impopular imposto predial implantado pelo atual governo.
Já Grillo e o M5S têm atraído multidões com seu "tour tsunami", em que não faltam gritos de "ladrões" dirigidos à classe política. Em torno de um quinto do eleitorado parece contagiado pelo ex-comediante.
Mesmo com chances remotas de vencer, a ressurreição política do ex-premiê e o fenômeno Grillo podem fragilizar a eventual vitória da centro-esquerda, liderada por Pier Luigi Bersani e seu Partido Democrático (PD).
Já a situação do atual premiê, o pró-União Europeia Mario Monti, é humilhante. Sua coalizão, Com Monti pela Itália, amarga um quarto lugar, reflexo da impopularidade das medidas austeras e da incapacidade de seu governo de reverter a alta taxa de desemprego (11%), principalmente entre jovens de menos de 24 anos (37%).
Nesse cenário, ainda é provável que o país adote um gabinete de centro-esquerda, reunindo talvez as forças de Bersani e Monti. Se ela não obtiver boa maioria, a terceira economia da zona do euro sairá das eleições com um governo fragilizado, o que terá reflexos negativos e imprevisíveis sobre a Europa -e reabrirá a possibilidade inquietante de uma nova e encorpada investida de Berlusconi.