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Boicote no Egito

Mergulhada numa violenta e crescente tensão com o governo da Irmandade Muçulmana, a oposição egípcia anunciou boicote às eleições parlamentares convocadas pelo presidente Mohamed Mursi, a serem realizadas por regiões, em quatro etapas, de abril a julho (por falta de juízes supervisores).

Caso seja levada adiante, a recusa de participar do pleito deve atrasar ainda mais a democratização iniciada com a Primavera Árabe.

Não é a primeira vez que a oposição recorre ao boicote, com os argumentos de que as eleições têm regras desfavoráveis e são passíveis de fraude. Além disso, os adversários da Irmandade também costumam dizer que falta um mínimo de segurança para a campanha.

São acusações verossímeis, mas o não comparecimento corre o risco de aprofundar a polarização política e a crise institucional.

A turbulência se instalou no Egito desde a deposição do ditador Hosni Mubarak há dois anos. Acentuou-se ainda mais a partir de meados do ano passado, quando Mursi, recém-eleito, concedeu-se superpoderes por meio de decreto e, em seguida, referendou a toque de caixa uma Constituição redigida por religiosos ligados à Irmandade Muçulmana.

Reagir com boicote às urnas, no entanto, pode levar a uma situação parecida com a da Venezuela, em 2005. Naquela ocasião, Hugo Chávez, beneficiado por estratégia similar da oposição local, consolidou a tomada de assalto das instituições de seu país -o Estado venezuelano terminou moldado ao gosto do caudilho.

No caso egípcio, há o agravante de que o impasse eleitoral afeta a situação econômica do país, pois paralisa as negociações em curso com o FMI para um esperado empréstimo de US$ 8 bilhões. Enquanto isso, o desemprego cresce, aproximando-se de 12%.

Não há dúvida de que a situação política se deteriorou consideravelmente no Egito, mas ela não parece ter chegado ao ponto de justificar o rompimento das negociações na arena político-partidária.

O governo Mursi propôs recentemente um diálogo nacional que, para funcionar, tem de incluir temas urgentes, como a reforma da Constituição recém-aprovada e regras mais aceitáveis para as eleições parlamentares.

Sem isso, o Egito corre o risco de mergulhar de vez na violência e de abrir o caminho para uma intervenção militar, com ou sem a

conivência da Irmandade Muçulmana. Seria o fim prematuro de um árduo processo de democratização, com reflexos negativos por todo o mundo árabe.


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