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Venezuela pós-Chávez

Nicolás Maduro, sucessor ungido pelo caudilho, é favorito para nova eleição; economia frágil ameaça a sobrevivência do chavismo

A morte do presidente Hugo Chávez põe em evidência uma Venezuela polarizada, em convulsão emocional e confrontada com um cenário político inquietante, ainda que sem crise aguda à vista. Pela Constituição, há que realizar nova eleição presidencial em 30 dias.

O oficialismo deve, no primeiro momento, cerrar filas em torno do vice-presidente Nicolás Maduro, que passou as últimas semanas no exercício do papel de caudilho, com cadeias obrigatórias de rádio e TV e acusações pueris aos EUA.

Ao mesmo tempo, secundado por parentes e apadrinhados do enfermo, Maduro mantinha um véu de desinformação sobre o verdadeiro estado de saúde do mentor.

É do interesse da camarilha chavista que o pleito aconteça logo, para capitalizar a comoção gerada pelo martírio midiático de Chávez. Quando ela se dissipar, ganhará primeiro plano um conturbado cenário econômico -decadência da estatal petroleira PDVSA, inflação e desabastecimento galopantes e, possivelmente, nova desvalorização da moeda, o "bolívar forte".

Hoje favorito, Maduro terá votos graças à unção por Chávez, mas contará só com a efígie do padrinho para lhe dar lastro, insuficiente para conter por muito tempo as disputas das facções chavistas, principalmente entre civis e militares.

Acuada pelo paroxismo emocional e reincidindo em antigas fraturas, a oposição tem como desafio de curto prazo voltar a unir-se em torno de um candidato forte, provavelmente o mesmo Henrique Capriles Radonski que obteve respeitáveis 44% dos votos em outubro.

Depois disso, terá de formatar uma campanha que aponte os graves problemas -criminalidade sem controle, infraestrutura em pedaços, política econômica desastrosa- sem levantar a suspeita de que refrearia, caso eleito, os programas assistenciais custeados com receitas do petróleo.

Admiradores do modelo cubano, Chávez e aliados sempre trombetearam que não aceitam uma "volta ao passado", ou seja, deixar o poder. A história recente, de opositores presos ou forçados a se exilar e mudanças contínuas nas regras do jogo, alimenta o temor de que o regime não terá pudor de recorrer a métodos antidemocráticos.

O Estado hoje é o paraíso da "boliburguesia", a elite de funcionários e empresários "bolivarianos", que naturalmente resistirão a abrir mão de privilégios. Mais difícil ainda será reverter a crença no "Estado mágico": para milhões de venezuelanos, o governo é o curador de todas as mazelas, com seu poder de dispensar o maná dos dividendos do petróleo.

Todo esse artificialismo deverá bastar para eleger Maduro, mas é duvidoso que possa fazer dele uma reencarnação de Chávez, com sua capacidade de manter a maioria dos venezuelanos -num país crispado- unida pelo chavismo.


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