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Opinião

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Torcida e segredos

Interesse pelo conclave é amplo na sociedade, mas, enquanto imprensa procura dar publicidade, Igreja Católica preserva mistérios

A eleição de um novo papa tem o poder de excitar, num grau equiparável a poucos outros assuntos, as conhecidas inclinações da imprensa para o incômodo, a impertinência e -a palavra cabe bem nesse contexto- a dessacralização.

É natural que, em alguns círculos católicos, sejam perturbadoras as especulações em torno dos interesses políticos e materiais envolvidos em qualquer conclave.

Segundo a doutrina, espera-se que os cardeais recebam o influxo do Espírito Santo no momento da eleição. Quanto aos jornalistas, representando como nunca aquele "mundo desencantado" de que falava o sociólogo Max Weber, está em jogo exercer ao máximo uma das características mais próprias de sua vocação -o ceticismo.

Uma palavra merece ser dita sobre a questão da irreverência e da agressividade. O conservadorismo de Bento 16 na questão dos costumes sexuais pode ser visto, sem dúvida, como intromissão indevida na intimidade das pessoas.

Seria fácil dizer que o papa se dirige apenas aos católicos e que sua mensagem não tem por que ser aceita pelos que não lhe devem obediência. É inequívoco, porém, que os ensinamentos da igreja influem no conjunto da sociedade -já bastante propensa, vale lembrar, a atitudes de homofobia, por exemplo.

Nesse contexto, faz sentido que, num país como o Brasil, todos se envolvam, até com uma atitude de torcida, na sucessão do papa. Religiosos ou não, poucos escapam à influência difusa do catolicismo -como se o sucessor de Bento 16 fosse uma espécie de presidente espiritual do mundo, cujas convicções cada um gostaria de ver mais próximas das suas.

Se tal atitude parece disseminada, o comportamento da imprensa segue outras vias. A busca de motivações ocultas no interior da igreja tende a ser proporcional à falta de transparência da instituição.

O relatório encomendado por Bento 16 sobre os Vatileaks não é distribuído na íntegra nem mesmo aos participantes do conclave, que tem início depois de amanhã. Tanto segredo contradiz os esforços das autoridades eclesiásticas para minimizar sua importância.

Embora não haja motivos para duvidar das explicações dadas pelo papa sobre sua renúncia -cansaço físico e mental-, o fato é que, se existissem outras razões para sua atitude, não seriam diferentes as breves frases que pronunciou.

O mistério -palavra carregada de conotações positivas no catolicismo- é o oposto do apreço da imprensa pela publicidade e pela transparência, essenciais ao debate e à saúde das instituições. A contradição, ainda que não precise levar ao desrespeito, é indeclinável.


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