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Não houve delação no caso Rubens Paiva, diz ex-exilado

Para filho de mulher que levou cartas ao ex-deputado, 'especulação é absurda'

Luiz Rodolfo Viveiros de Castro vivia no exílio em Santiago quando Rubens Paiva foi preso pela ditadura

PATRÍCIA BRITTO DE SÃO PAULO

Nome muitas vezes lembrado quando se fala sobre o episódio que culminou com a prisão do deputado federal cassado Rubens Paiva, em 1971, o ex-exilado político Luiz Rodolfo Viveiros de Castro, 63, relembra os dias de seu exílio no Chile e afirma: "Não acredito que houve um delator".

Rubens Paiva foi localizado pela ditadura após a mãe e a cunhada de Luiz Rodolfo, Cecília e Marilene, serem presas com uma carta que seria entregue ao então ex-deputado. Interrogadas, deram o número do telefone pelo qual contatariam Paiva, o que permitiu a militares localizá-lo.

Com frequência, pesquisadores levantam a suspeita de que um infiltrado no Chile teria contado aos militares que Cecília e Marilene trariam a carta para Paiva na volta de uma visita ao então exilado Luiz Rodolfo, em Santiago.

"Durante muito tempo, ficou esse bochicho de que alguém tinha delatado. Chegaram a me propor tomar providências", diz Luiz Rodolfo na primeira entrevista que concedeu desde que a Folha divulgou, em fevereiro, documento que descreve como Rubens Paiva foi localizado. "Nem me lembro dos nomes, mas achei um absurdo se especular sobre algo tão grave."

VISITA DA MÃE

Luiz Rodolfo vivia em Santiago com sua primeira mulher, Jane Corona, havia quatro meses, quando recebeu a visita da mãe e da cunhada pouco antes do Natal de 1970. Dias depois, em 14 de janeiro de 1971, chegaram à cidade os 70 ex-presos políticos libertados em troca do embaixador suíço Giovanni Bucher.

Na época, diz, era comum exilados pedirem a parentes para levar e trazer cartas de outros brasileiros. "Uma correspondência demorava uma semana para chegar e, quando respondiam, mais uma semana para voltar." Assim, os exilados aproveitaram a ida de Cecília e Marilene para mandar cartas ao Brasil.

Quando chegaram ao aeroporto no Rio, as duas foram levadas por agentes da Aeronáutica. Eles descobriram as cartas, inclusive uma para Paiva, com uma reportagem da chegada dos 70 ex-presos.

Luiz Rodolfo diz que, mesmo sem existir um delator, não seria difícil saber sobre a vinda de suas parentes, o que poderia ser descoberto por meio da lista de passageiros.

"Meu nome era conhecido. Elas eram as únicas parentes de exilados no primeiro voo que saiu de Santiago para o Rio depois que os 70 exilados chegaram." Após exílio em países como Chile, Argentina, Portugal e França, Luiz Rodolfo voltou ao Rio em 1978, onde trabalha como tradutor.

Hoje, aos 89 anos, Cecília Viveiros de Castro confunde detalhes do episódio, diz o filho. "Minha mãe está velhinha. Quando divulgaram novos documentos do caso, tentamos esconder o jornal, mas ela viu na TV. Liguei para saber como ela estava, e ela me disse: 'Estamos de novo nas páginas, mas não tem problema, não é nada contra mim'."


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