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'Penso que era melhor se tivesse morrido'

Dirceu diz que, embora tenha tido esse sentimento em algumas ocasiões, não pensou em se matar: 'Sou apaixonado pela vida'

Ex-ministro afirma ainda que vai continuar na vida pública e que fará política até 'o último suspiro'

DE SÃO PAULO DA COLUNISTA DA FOLHA

Na entrevista, Dirceu relata o que sentiu ao longo do processo. "Eu às vezes penso que era melhor se eu tivesse morrido do que passar pelo que eu estou passando", diz o ex-ministro.

Mas pensou em se matar? "Sou um apaixonado pela vida. Jamais pensaria."

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Folha/UOL - O PT tem dado o apoio que o sr. gostaria?
José Dirceu - Tem. Todo o apoio que eu preciso o PT me dá. Dentro dos limites do PT. Porque o PT não pode transformar essa questão na razão de ser do PT. Muito menos um governante.

O PT foi solidário com Eduardo Campos quando ele enfrentou o escândalo dos precatórios [nos anos 1990]. Ele continua atendendo o sr.?
Nós fomos solidários até porque era uma acusação completamente injusta. Toda vez que eu vou a Pernambuco, eu sou recebido pelo governador. Ele é muito solidário comigo. Minha relação com ele é excelente.

Ele foi solidário no mensalão?
Totalmente solidário.

O que é a regulação da mídia que o PT está defendendo?
A regulação pode ser da propriedade cruzada. A regulação por causa da cultura, da etnia, das minorias nacionais. A regulação pode ser para o pluralismo para acabar com o monopólio.

No Brasil, o sr. pode dar algum exemplo concreto? O que seria regulação da propriedade cruzada?
Você pode pôr limites. O que não é possível é alguém, além de deter 70%, 80% de toda a publicidade do país nas suas organizações, ter uma propriedade cruzada quase que fantástica de rádios e televisões e jornais.

O sr. está se referindo a quem?
Às Organizações Globo. Porque têm, por exemplo, os seus associados nos Estados. Por exemplo, em SC e no Rio Grande do Sul, a RBS controla os jornais praticamente.

O sr. acha que deveria acontecer o quê?
Eu não quero dizer o que deveria acontecer. Eu quero dizer o seguinte: que é preciso tirar esse espantalho, a camiseta 13 do PT, e discutir, seriamente, a regulação da mídia no Brasil. Interessa à cultura brasileira.

Não foi o próprio PT que acabou envenenando o debate?
O PT não envenenou o debate. O PT se defende. Eu, pelo menos, todos são testemunhas, que vou para imprensa, peço para escrever. Eu fico alguns momentos sem dar entrevista porque os meus advogados não permitem.

*[Risos] O sr. está dizendo que os seus advogados mandam no sr.?*
Evidente, eu tenho juízo, não é? Eu tenho que ouvir os meus advogados.

O ex-presidente Lula avançou um pouco nessa discussão sobre mídia. A presidente Dilma recuou. Ela teme esse debate?
Não. Eu acho que ela tem os pés no chão. Ela tem que governar o país.

Por que o ex-presidente Lula decidiu lançar tão cedo a candidatura à reeleição da presidente Dilma?
Porque queriam jogar xadrez só com as brancas ou com as pretas. Acharam que nós não existimos. O presidente Fernando Henrique Cardoso assume o papel de coordenador, conselheiro e agitador da campanha de Aécio Neves presidente da República. O governador Eduardo Campos se lança candidato à Presidência. E nós vamos ficar esperando 2014?

Quem o sr. acha que são os candidatos que devem acabar, realmente, concorrendo no ano que vem à Presidência?
Marina Silva com o partido dela, que é bem-vindo. O governador Eduardo Campos eu acho que é candidato.

É irreversível?
Não. Irreversível nenhuma candidatura é. Mas eu diria que ele é candidato legítimo, com todo o direito. E o senador Aécio Neves, pelo PSDB, acho que está consolidado. Há que ver o que fará o nosso José Serra, que já foi candidato duas vezes, que foi senador, prefeito, governador, deputado, secretário, tem todos os méritos e condições de ser candidato a presidente da República. Se ele fará um novo partido com o PPS e o PMN... Se vai tentar compor com o Eduardo Campos ou não, se vai apear o Aécio ou não e se será candidato. Eu acho que ele sempre, legitimamente, quis ser presidente. Se tem um homem no Brasil que lutou por isso foi o Serra.

O sr. está dizendo, então, que a presidente Dilma [será candidata] à reeleição. Aécio Neves, Eduardo Campos, Marina Silva... José Serra, uma incógnita. E Joaquim Barbosa?
É muito difícil prever isso.

O sr. pode passar um período preso. Como vai participar da política como tem dito?
Primeiro precisa ver se eu vou ser preso. Porque eu vou me defender na Justiça para não ser preso. É um direito que eu tenho. Eu tenho determinação de continuar a participar da vida política e vou encontrar meios em qualquer circunstância que eu esteja.

No Natal passado houve uma possibilidade de o ministro Joaquim Barbosa decretar a prisão dos condenados. Como foi o seu sentimento?
Um sentimento de indignação. Porque era uma arbitrariedade nunca vista. Eu não diria que eu tenho medo da prisão. Eu tenho um sentimento de revolta.

Preparou-se para ser preso?
Sim, eu estou preparado para qualquer circunstância. Não vou dizer que eu não possa fraquejar. Não sou nenhum super-homem. Sou um cidadão como qualquer outro. Eu às vezes penso que era melhor se eu tivesse morrido do que passar pelo que eu estou passando.

Mas o sr. chegou a pensar...
Não, eu sou um apaixonado pela vida. Jamais pensaria.

A sua vida política com o mensalão está encerrada?
Não. A minha vida política não está encerrada. Isso é uma ilusão. Quem acredita nisso não me conhece. Não está encerrada. Eu vou fazer política até o último suspiro. Escrever é fazer política. Vocês fazem muita política, os jornalistas. E como fazem! E os jornais, então, nem se fala. E a televisão, então, noticiário nem se fala! Eu vou fazer política.


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