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Comissão decide exumar corpo de Jango
Pedido ao grupo que apura crimes da ditadura foi feito pela família, que quer esclarecer causas da morte do ex-presidente
Filho diz acreditar que houve envenenamento; Procuradoria apura a responsabilidade civil da morte de Jango
A Comissão Nacional da Verdade decidiu exumar, com autorização da família, o corpo do ex-presidente João Goulart --morto em 1976 durante exílio na Argentina.
A exumação será feita com o auxílio do Ministério Público Federal no Rio Grande do Sul, já que Goulart está enterrado no cemitério de São Borja, município do Estado.
A família do ex-presidente entregou em março petição requerendo a exumação para apurar se ele foi envenenado, denúncia feita por Mário Neira Barreiro, ex-agente do serviço de inteligência uruguaio, preso no Brasil.
A causa oficial da morte do ex-presidente é considerada como ataque cardíaco.
Rosa Cardoso, uma das integrantes da Comissão da Verdade, afirmou que a petição dos Goulart tem "elementos concludentes" de que ele foi vítima da Operação Condor (ação conjunta das ditaduras da América do Sul).
Jango, como o ex-presidente era conhecido, foi deposto em 1964 pelos militares, que deram início à ditadura.
O filho de Jango João Vicente Goulart, 56, disse que a medida é "um grande primeiro passo" para esclarecer as causas da morte de seu pai. "Foi uma luta muito grande", disse à Folha.
Ele disse acreditar que o pai morreu após ingerir uma cápsula envenenada, misturada aos remédios que tomava contra problemas cardíacos.
ETAPAS
Segundo a procuradora da República Suzete Bragagnolo, a exumação integra a investigação solicitada pela família, em 2006, que apura a responsabilidade civil pelo caso. O inquérito criminal foi arquivado porque o crime de homicídio prescreveu.
A Procuradoria ainda vai definir se o pedido de exumação deve ser encaminhado à Justiça. A família já autorizou, mas fez exigências, como o acompanhamento do processo e a participação de peritos argentinos na autópsia.
De acordo com a Polícia Federal, o resultado dependerá do estado em que o corpo se encontra e do tipo de substâncias supostamente usadas para envenenar Goulart.
"Existe uma possibilidade de descobrir algo? Existe. Mas também existe uma boa possibilidade de o laudo ser inconclusivo", diz Bragagnolo.