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Abertura de sessões marca nova forma de trabalho da comissão
DE BRASÍLIAA sessão aberta de ontem pode iniciar novo capítulo da Comissão Nacional da Verdade, que completa neste mês um ano e chega à metade de seu prazo de funcionamento.
Segundo Claudio Fonteles, um dos sete integrantes do colegiado, agora serão feitos novos depoimentos públicos. "Primeiro houve uma formatação documental [procura de papéis para subsidiar os depoimentos], agora começam [os depoimentos], se Deus quiser", disse ele.
Até então, 15 agentes de repressão já tinham sido convocados para falar, dos quais 11 já testemunharam e quatro não compareceram.
A comissão tem poderes para convocar testemunhas e obrigá-las a depor, mas adotou a prática de convidar as pessoas e só transformar convites em convocações nos casos em que houver recusa.
Os nomes dos depoentes não foram liberados. A Folha pediu a lista com base na Lei de Acesso à Informação, mas a comissão negou o pedido.
A publicidade dos depoimentos é uma questão central para membros da comissão, familiares de desaparecidos políticos e entidades que buscam a elucidação dos crimes ocorridos na ditadura.
O que está em jogo é uma discussão mais profunda sobre os objetivos da comissão.
Alguns membros dizem acreditar que ela deveria provocar uma forte discussão pública, mesmo com o risco de promover sessões conturbadas como a de ontem --o que, segundo afirmou Fonteles, "faz parte da democracia".
Ontem, um dos principais receios da comissão em relação a sessões abertas, o de que os militares fossem alvo de protestos, não se concretizou.
Outros membros, liderados pelo professor Paulo Sérgio Pinheiro, defendem que as atividades do colegiado sejam mais reservadas.
A ideia é que, se não forem expostos, os militares se sentiriam mais confortáveis para fazer revelações. Na prática, a condução dos trabalhos vem mudando de acordo com o coordenador do grupo.
A advogada Rosa Cardoso, partidária dos depoimentos públicos, deve ser a próxima a assumir o posto. Dos integrantes da comissão, só participaram da sessão de ontem só Fonteles e o ex-ministro da Justiça José Carlos Dias.
A opacidade dos trabalhos do colegiado tem sido um dos principais motivos das críticas que a comissão sofre.
Além disso, muitos observadores se dizem céticos sobre a possibilidade real de o grupo cumprir a missão prevista em lei e descrever, em detalhes, todas as violações cometidas pela ditadura militar.