Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria
Análise
'Furacão' das revoltas abala governantes de todas as siglas
VERA MAGALHÃES EDITORA DO PAINELO cenário captado pelo Datafolha no calor das revoltas de junho é de terra arrasada. O furacão colheu governantes dos três níveis de administração, de todos os partidos, recém-eleitos e em meio de mandato. Ninguém foi poupado da insatisfação geral que emergiu dos protestos.
Era possível prever esse resultado dada a reação de Dilma Rousseff, governadores e prefeitos, que nas últimas semanas se lançaram feito cabras-cegas para dar satisfação a demandas que ninguém sabia ao certo quais eram.
Do recuo no preço da tarifas à pregação pela reforma política --que, como mostra o mesmo levantamento do Datafolha, não é uma preocupação do eleitor, e sim dos partidos--, os políticos atiraram para todos os lados tentando salvar a própria pele.
Inútil. Logo no início das manifestações, antes de elas atingirem todo o país e as cenas de confrontos se multiplicarem, escrevi no caderno "Cotidiano" que não haveria vencedores políticos das passeatas. Tanto que, quando o Datafolha tenta auferir quem se beneficia do derretimento de popularidade de quem está no comando, não há herdeiro natural. Os que crescem mais são justamente os que representam a negação da política partidária tradicional, como Marina Silva e o não candidato Joaquim Barbosa.
É difícil que tal grau de irritação com os governantes permaneça até a eleição, mas também parece pouco provável que haja recuperação plena da confiança, ainda mais diante das dificuldades econômicas, que impedirão que se atendam as reivindicações mais genéricas, por melhoras na saúde e na educação.
Em entrevistas recentes, Fernando Haddad mostra o tamanho do problema ao dizer que a situação da prefeitura paulistana é de insolvência.
Uma confissão de impotência dessa no sexto mês de mandato, conjugada com aprovação de 18%, parece um beco sem saída para o petista, o mais "novo" da lista dos alvejados pelas ruas. O pior, no caso dele, é que os padrinhos da eleição pouco ou nada podem fazer para ajudá-lo, pois foram atingidos pelo mesmo petardo que o nocauteou.