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Entrevista da 2ª - Josué Gomes da Silva

Faltam previsibilidade e transparência na economia

COTADO PARA MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO, FILHO DE JOSÉ ALENCAR DIZ QUE AJUDA MAIS FORA DO GOVERNO

MARINA DIAS DE SÃO PAULO

Recém-filiado ao PMDB, principal partido aliado dos petistas, o empresário Josué Gomes da Silva, 49, diz que a "falta de previsibilidade e transparência" no campo dos negócios é o maior problema da política econômica do governo Dilma.

Para o mineiro, que defende a presidente enquanto sugere "falhas na comunicação" do ministro da Fazenda, Guido Mantega, os equívocos estão na "forma" e não na "direção" das medidas. "A hiperatividade no campo macroeconômico deixa o empresariado desconfiado", explica.

Filho do ex-vice-presidente da República José Alencar Gomes da Silva, o presidente da Coteminas (Companhia de Tecidos Norte de Minas) tornou-se uma das apostas do Palácio do Planalto para o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, de para acalmar o ânimo dos colegas empresários.

Mas Josué descarta a possibilidade. "Acho que ajudo mais fora de um ministério."

A seguir, os principais trechos da entrevista.

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Folha - O senhor foi sondado pelo senador Aécio Neves para ser candidato ao governo de Minas Gerais pelo PSDB. Por que optou pelo PMDB e pela aliança com a presidente Dilma Rousseff?
Josué Gomes da Silva - Sempre manifestei que tenho um lado, o do presidente Lula e da presidenta Dilma Rousseff. E é natural que essa seja minha opção, afinal papai fez parte desse projeto que me parece ter inúmeros acertos. Conheço o senador Aécio, mas nunca houve sondagem.

Qual foi a participação de Lula na sua filiação ao PMDB?
Nunca poderia deixar de ouvi-lo. Ele sempre teve um carinho muito grande no período de convalescência do papai e sempre respeitou o papai, as opiniões do papai, dando absoluta liberdade para que o papai se manifestasse. Lula é um democrata, dá sugestões e opinião, mas não impõe nada. Ele é um grande conhecedor da política e fez sua recomendação.

O ex-presidente Lula e o vice-presidente, Michel Temer (PMDB), defendem seu nome para o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. O senhor está disposto a assumir o cargo?
Só posso me sentir honrado, mas não significa que eu concorde que essa seja a melhor alternativa para o projeto, para a candidatura [da presidente Dilma]. Não houve convite. Seria honroso, mas, sinceramente, acho que ajudo mais fora de um ministério. Não me parece o melhor momento.

O setor empresarial está descontente com o governo federal e sua nomeação no ministério poderia ser importante para a interlocução com o PIB.
Já tem um diálogo entre o setor empresarial e o governo Dilma, não precisa de outra pessoa para ampliar isso. Não nego que o setor empresarial esteja descontente. Mas não acho que seja com o governo. Aquele espírito animal de investidor está apagado, adormecido, por causa do conjunto de circunstâncias.

Quais circunstâncias?
Nosso governo não foi suficientemente claro na comunicação das últimas medidas econômicas. Os empresários precisam de previsibilidade. Uma das razões de o setor estar com o instinto de investimento adormecido é porque não tem clima de transparência. Me parece que o governo está atento e não houve descontrole fiscal. Tem que focar na inflação e nas contas públicas e é o que está fazendo.

Como é possível recuperar a confiança na economia?
Tem que dar mostras de que é absolutamente zeloso com a inflação e com as contas públicas. Agora é melhorar a previsibilidade. Hiperatividade no campo macroeconômico deixa o empresariado desconfiado. Diminuir a volatilidade é condição essencial para que voltemos a graus de investimento necessários para o crescimento de 4% a 5%, que é o que acredito ser o potencial brasileiro.

Como o senhor avalia a política econômica do governo?
Tem mais acertos do que erros e, normalmente, só erra quem faz. Talvez na vontade de fazer muito, alguns erros tenham sido cometidos, mas o mais importante é se dar conta e corrigir a rota.

Empresários dizem que a política econômica do governo Dilma causou um desequilíbrio fiscal que atingiu o pior resultado para o mês em 17 anos. O senhor concorda?
O mundo vê um aumento das despesas públicas desde 2008. Em todos os países há expansionismo fiscal. O Brasil, que tem uma dívida pública líquida sobre o PIB da ordem de 35%, não precisava mais gerar superavit primário da magnitude anterior. Ao diminuir o superavit primário, o governo reduz a carga tributária sobre o PIB. Pode-se questionar a forma. O governo não anunciou de forma clara e aí anuncia uma meta um pouco inviável. Depois tenta fechar as contas de maneira legal, mas parecem maneiras arbitrárias e uma certa contabilidade criativa.

Alguns empresários têm se aproximado do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), que deve concorrer à Presidência em 2014. Em que medida isso deve preocupar o governo e por que seus colegas parecem atraídos por ele?
O novo desperta curiosidade, ainda que Campos seja um político conhecido que tem feito um governo admirável. Com apoio do governo federal, é verdade. Acho que ele vai travar um bom debate.

Acha que Dilma será candidata em qualquer circunstância?
Sim. A presidenta tem todos os méritos e vai se eleger.

Não vê nenhum cenário em que Lula seria o candidato?
Acho que não. Claramente o presidente Lula está trabalhando com afinco pela candidatura de Dilma e Temer.

Um segundo governo Dilma seria diferente do primeiro?
A marca desses onze anos é desenvolvimento com distribuição de renda e justiça social. Isso melhora a qualificação da população. Por isso o Brasil está crescendo e é nesse projeto que eu acredito.

O senhor disse contribuir mais para a candidatura de Dilma fora do ministério. Seria como candidato em Minas Gerais? Como conciliar atividade empresarial e atuação política?
Não vejo incompatibilidade entre as atividades porque minha militância política é como cidadão. Minha defesa desse modelo, estando fora do governo, é mais legítima. Não estou buscando cargo. Obviamente não falo que não disputarei cargos, mas nunca tratei nem pensei nisto. Estou na política porque acredito.

Sua entrada no PMDB envolve algum tipo de compromisso com o financiamento dos candidatos do partido em 2014?
Nunca foi discutido candidatura, imagina se foi discutido algum aspecto financeiro para a campanha. Nunca.

É a favor do financiamento exclusivamente público para campanhas? Acha que isso inibiria o caixa dois, como dizem os defensores da ideia?
O caixa dois não deveria existir com financiamento público nem privado. Se o cidadão está disposto legitimamente a participar da política, pode contribuir com um partido. Não podemos admitir abuso de poder econômico, ou seja, financiamento de grandes empresas que tenham interesses específicos.

O que achou do julgamento do mensalão? E as prisões?
Não conheço os autos do processo, então, qualquer opinião acabaria tendo um filtro de ideias preconcebidas e prefiro evitar equívocos.

Ficou demonstrado no julgamento que o antigo PL, partido do seu pai, recebeu R$ 9 milhões após a aliança com o PT. Não há evidência de que seu pai tenha participado das negociações, mas seria razoável supor que ele tenha se interessado em saber o que houve. Vocês conversaram sobre isso?
Papai deu declarações públicas sobre isso. Na aliança entre PT e PL, com o PT na cabeça de chapa, ficou combinado a distribuição de recursos da arrecadação de maneira a permitir que o PL financiasse seus candidatos a deputado. Não era troca de dinheiro. Agora, como foi arrecadado, distribuído e o que foi feito com o dinheiro, isso não cabia ao presidente Lula nem ao papai como candidatos, cabia aos tesoureiros.


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